Fragmento trazido pelo vento

"Como escreveu o filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969) no livro Minima Moralia, o ato de presentear foi rebaixado ao nível de uma função social que se efetua com uma racionalidade contrariada. Uma crítica aos dias em que viveu, mas que se mostra bem atual." (Revista Vida Simples - Novembro 2008)

Fragmentos trazidos pelo vento

"Um dos mais preciosos retratos da condição humana foi traçado pelo pensador Jiddhu Krishnamurti. (...) O que podemos fazer para voltarmos a ser livres como uma criança? Sua resposta para essa pergunta é muito estranha: olhar, observar. Prestar atenção verdadeiramente, realmente, em tudo o que está dentro e fora de nós. Ver as correntes que nos prendem, observar os grilhões a que estamos atados, as mentiras, os sonhos, as fantasias. Um encontro cara a cara com a verdade, cada dia mais profundo. E quando aprendermos a olhar de maneira tão sincera e real, disse Krishnamurti, tudo se esclarecerá. As correntes começarão a se desfazer, a visão estará mais límpida e desimpedida. Isso pode ser doloroso. (...) No esforço para se ajustar à ideologia, (ou religião, ou doutrina), você recalca a si mesmo, seu ser verdadeiro. Sua essência é massacrada por um milhão de vozes: de sua personalidade, da sua sociedade, de sua própria consciência fragmentada. 'No entanto, o que é realmente verdadeiro não é a ideologia, mas aquilo que você é'. Krishnamurti acreditava que, ao se livrar do enorme peso das tradições, religiões ou ideologias e do seu próprio passado, o indivíduo ganhava uma carga extraordinária de energia e vitalidade. Criava então condições internas e força suficientes para ser livre." (Revista Vida Simples - Março 2008)

"Existem muitas propostas de alienação, que passam pelas roupas que precisamos vestir para estar na moda e chegam aos restaurantes que precisamos ir para sermos vistos e comentados. É preciso olhar para sua própria vida e construir seus próprios significados. O cultivo da própria personalidade é uma iniciativa que irá ajudar na construção da realidade que você decide viver, e não a que os outros lhe impõe. Um cidadão de bem, aliás, deve ajustar a sincronia da sua vida a si mesmo." (Revista Vida Simples - Junho 2007)

Fragmento trazido pelo vento

"Também foi Freud quem alertou, em 1921, ao criticar os exércitos e as igrejas, que os grupos nunca ansiaram pela verdade. Exigem ilusões e não podem passar sem elas. Constantemente, dão ao que é irreal precedência sobre o real. É prudente também considerar a possibilidade de que, embora evidentemente influenciadas pela mídia, as pessoas acreditam apenas no que querem acreditar." (Revista Mente & Cérebro – Outubro 2008)

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint Exupéry

“Quando o mistério é impressionante demais, a gente não ousa desobedecer.”

“É tão misterioso o país das lágrimas.”

“– A gente se sente um pouco só no deserto.
– Entre os homens a gente também se sente só.”

“E eu não tenho necessidade de ti, e tu também não tens necessidade de mim. Não passo aos teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.”

“O essencial é invisível aos olhos.”

“Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia, não vê nada, não escuta nada. De repente alguma coisa irradia no silêncio...”

“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar.”

“Eu estava triste, mas lhes dizia: É o cansaço...”

Configurações Sobre o Grotesco - Da Arte à Publicidade - Thiane Nunes

"Acostumar-se a ver apenas a normalidade é uma tentativa de ignorar o mundo real."

O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. Salinger

“Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele toda vez que der vontade.”

“Aí pensei na cambada toda me metendo numa droga de cemitério, com meu nome num túmulo e tudo. Cercado de gente morta. Puxa, depois que a gente morre, eles fazem o diabo com a gente. Tomara que quando eu morrer de verdade alguém tenha a feliz idéia de me atirar num rio ou coisa parecida. Tudo, menos me enfiar numa porcaria dum cemitério. Gente vindo todo domingo botar um ramo de flores em cima da barriga do infeliz, e toda essa baboseira. Quem é que quer flores depois de morto? Ninguém.”

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

“– (...) Tratam de Deus tal qual era há centenas de anos, não de Deus como é agora.
– Mas Deus não muda.
– Acontece que os homens mudam."

“Dizem que é o medo da morte, e do que vem depois da morte, que leva os homens a voltar-se para a religião à medida que os anos se acumulam. (...) Sim, voltamo-nos inevitavelmente para Deus, pois esse sentimento religioso é por natureza tão puro, tão delicado para a alma que o experimenta, que compensa todas as nossas outras perdas.”

“– E então o senhor acha que não existe Deus?
– Ao contrário, penso que muito provavelmente ele existe.
– Então por que...?
Mustapha Mond atalhou-o.
– Mas ele se manifesta de modo diferente a homens diferentes. Nos tempos pré-modernos, manifestava-se como o ser descrito nesses livros. Agora...
– Como se manifesta ele agora? – perguntou o Selvagem.
– Bem, ele se manifesta como uma ausência; como se absolutamente não existisse.”

“Como se nós acreditássemos em alguma coisa, seja o que for, por instinto! Cremos nas coisas porque somos condicionados a crer nelas. (...) As pessoas crêem em Deus porque foram condicionadas para crer em Deus.”

“– Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado.”

A Menina que Roubava Livros - Markus Zusak

“Eis um pequeno fato: você vai morrer.”

“Não sou violenta, não sou maldosa. Sou um resultado.”

“Uma pequena teoria: as pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa. Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.”

“Está aí uma coisa que nunca saberei nem compreenderei: do que os humanos são capazes.”

“Como o ser humano é contraditório. Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água.”

“Em certas situações a gente aceita o que consegue.”

“Havia gente por toda parte, na rua da cidade, mas o forasteiro não poderia sentir-se mais só se ela estivesse deserta.”

“Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer.”

“Tive vontade de lhe explicar que constantemente superestimo e subestimo a raça humana – que raras vezes simplesmente estimo. Tive vontade de lhe perguntar como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes.”

19 de agosto de 2008

1 ano de fragmentos.

Viagem ao Oriente - Hermann Hesse

"É uma fraqueza natural do homem julgar que o que perdemos possui um valor exagerado e parece menos dispensável do que tudo o que possuímos."

"O desespero é o resultado de cada tentativa ansiosa que fazemos para compreender e justificar a vida. É o resultado das tentativas que fazemos de conduzir nossos atos com virtude, justiça e compreensão, e cumprir suas exigências. As crianças vivem em uma das margens do desespero; os lúcidos, em outra."

Sidarta - Hermann Hesse

“Quem me dera olhar, sorrir, caminhar, manter-me sentado à sua maneira, com esse quê de liberdade, de dignidade, de discrição, de ingenuidade, de franqueza e de mistério! Realmente assim só se pode olhar e caminhar quem estiver penetrado no âmago de sua personalidade. Pois então, também eu me empenhava em penetrar no âmago da minha alma.”

“Nada nesse mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais...”

“Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria.”

Poesia Completa de Alberto Caeiro - Fernando Pessoa

“Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.”

“A recordação é uma traição à Natureza
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar não é ver.”

“Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão –
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que não são
Sentir é estar distraído.”

“Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.”

Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez

“Úrsula se perguntava se não era preferível se deitar logo de uma vez na sepultura e lhe jogarem a terra por cima, e perguntava a Deus, sem medo, se realmente acreditava que as pessoas eram feitas de ferro para suportar tantas penas e mortificações. E perguntando e perguntando ia atiçando sua própria perturbação e sentia desejos irreprimíveis de se soltar e não ter papas na língua como um forasteiro e de se permitir afinal um instante de rebeldia, o instante tantas vezes desejado e tantas vezes adiado, para cortar a resignação pela raiz e cagar de uma vez para tudo e tirar do coração os infinitos montes de palavrões que tivera que engolir durante um século inteiro de conformismo.
– Porra! – gritou.
Amaranta, que começava a colocar a roupa no baú, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
– Onde está? – perguntou alarmada.
– O quê?
– O animal! – esclareceu Amaranta.
Úrsula pôs o dedo no coração.
– Aqui – disse.”

“Fernanda se escandalizava com o fato de ela não entender as relações do catolicismo com a vida, mas unicamente as suas relações com a morte, como se não fosse uma religião mas um prospecto de convencionalismos funerários.”

“Não teria se importado com a chuva, porque afinal de contas toda a sua vida tinha sido como se estivesse chovendo.”

“Que em qualquer lugar em que estivessem se lembrassem sempre de que o passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera.”

Fragmento trazido pelo vento

"Por acaso pedi a Ti, ó Criador, que do barro
Me moldasses Homem, por acaso solicitei-Te
Que da escuridão me resgatasses?" (Paraíso Perdido - John Milton)

Incidente em Antares - Erico Verissimo

"Às vezes nesse mundo é preciso mais coragem para continuar vivendo do que para morrer."

"A progressão social repousa essencialmente sobre a morte. Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos."

"Morrer não é apenas uma fatalidade biológica, como também uma espécie de obrigação social."

"Quando muito moço, eu me sentia como uma personagem que tinha entrado por engano numa peça a cujo elenco não pertencia. Eu me movia num palco estranho sem ter idéia do meu papel, e tudo ao meu redor parecia impreciso, absurdo e relativo."

Demian - Hermann Hesse

“Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca.”

“A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.”

“Desses acontecimentos, que ninguém percebe, é que se nutre a linha axial interna de nosso destino. A falha, a rachadura se fecham mais tarde; podem cicatrizar e cair no esquecimento; mas em nossa câmara secreta mais recôndita nunca cessam de sangrar.”

“Podemos entender-nos uns aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se.”

“Sempre é bom termos consciência de que dentro de nós há alguém que tudo sabe...”

“Queria apenas tentar viver aquilo que brotava espontaneamente em mim. Por que isso me era tão difícil?”

“Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso.”

"Há, por exemplo, entre as mariposas, certa espécie noturna da qual as fêmeas são em número muito mais reduzido do que os machos. As mariposas se reproduzem da mesma maneira que todos os outros insetos: o macho fecunda a fêmea, e esta põe ovos. Quando se captura uma dessas fêmeas (e numerosos naturalistas já comprovaram o fato), os machos vão dar ao lugar onde ela se encontra prisioneira, depois de voarem vários quilômetros de distância, viajando horas e horas através da noite. Presta atenção! A vários quilômetros de distância os machos sentem a presença da única fêmea existente nas imediações. Tentou-se buscar uma explicação para o fato, mas é muito difícil de explicar. Talvez os machos tenham o sentido do olfato extraordinariamente desenvolvido, como os bons cães de caça, que conseguem achar e seguir um rastro imperceptível. Compreendes? A Natureza está cheia de fatos como este, que ninguém consegue explicar. Mas imagino que se, entre essas mariposas, as fêmeas fossem tão freqüentes quanto os machos, estes talvez não tivessem um olfato tão fino. Se o têm é porque se viram na necessidade de exercitá-lo a tal ponto e a intensificar sua sensibilidade. Quando um animal ou um homem orienta toda a sua atenção e toda a sua força de vontade para determinado fim, acaba por consegui-lo. O mesmo acontece com o que antes dizíamos. Se observarmos uma pessoa com suficiente atenção, acabaremos por saber mais a seu respeito do que a própria pessoa. (...) É necessário perguntar-se sempre, duvidar sempre. Mas a coisa é muito simples. Se uma dessas mariposas noturnas de que falamos pretendesse orientar toda a sua vontade em direção a uma estrela ou a outro fim semelhante, é claro que nada conseguiria. Mas nem sequer pretende isso. Busca apenas o que tem para ela um sentido e um valor, algo que lhe é necessário e de que não pode prescindir. E é então precisamente quando consegue também o inacreditável: desenvolver um sexto sentido, que só ela possui entre todos os animais. Nós, os homens, temos um campo de ação muito mais vasto e interesses mais amplos do que os animais. Mas também nós nos achamos inscritos num círculo relativamente pequeno e não conseguimos ultrapassá-lo. Posso imaginar muitas coisas, imaginar, por exemplo, que meu maior desejo seria chegar ao Pólo Norte ou algo semelhante; mas só poderei querer isso com suficiente intensidade e realizar esse desejo quando ele realmente existir em mim e todo o meu ser se achar penetrado por ele. Quando isso acontece, quando intentas algo que te é ordenado de dentro do teu próprio ser, acabas por consegui-lo e podes atrelar tua vontade como se fosse um animal de tiro. Se eu me esforçasse agora no sentido de que, por exemplo, o nosso pároco não usasse óculos, não haveria de conseguir nada. Seria apenas um jogo. Mas, quando no outono passado, surgiu em mim o firme propósito de mudar de lugar na classe, tudo aconteceu maravilhosamente. Logo apareceu um aluno, que até então estivera doente e cujo nome começava por uma letra anterior à inicial do meu, e como alguém devesse dar-lhe o lugar nos primeiros bancos, fui eu, desde logo, quem lhe cedeu o lugar, precisamente porque minha vontade já se encontrava preparada para aproveitar a primeira ocasião."

“A maioria das pessoas vive também em sonhos, mas não nos próprios, e aí é que está a diferença.”

“Não creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. Sabes muito bem que muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas.”

“Quando me comparava com os demais, sentia-me muitas vezes orgulhoso e satisfeito comigo mesmo, e em outras tantas deprimido e humilhado. Ora me acreditava um verdadeiro gênio, ora fraco do juízo. Não me era possível compartilhar a vida e as alegrias dos outros rapazes de minha idade, e às vezes reprovava asperamente o meu isolamento e sentia profunda tristeza, crendo-me definitivamente afastado de todos os meus semelhantes, com todas as portas da vida fechadas irrevogavelmente para mim.”

“Não há porque te comparares com os demais, e se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser avestruz. Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens, e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma, abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos.”

“Não devemos temer nem julgar ilícito nada do que nossa alma deseja em nós mesmos.”

“A ave saiu do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo.”

“A única realidade é aquela que se contém dentro de nós, e se os homens vivem tão irrealmente é porque aceitam como realidade as imagens exteriores e sufocam em si a voz do mundo inteiro. Também se pode ser feliz assim; mas quando se chega a conhecer o outro, torna-se impossível seguir o caminho da maioria. O caminho da maioria é fácil, o nosso é penoso. Caminhemos.”

“Esta é minha fraqueza, meu caro Sinclair, pois às vezes percebo que não deveria sentir tais desejos, que são um luxo e uma fraqueza. Seria mais digno e mais acertado estar simplesmente à disposição do destino, sem aspirações de qualquer ordem. Mas não posso, é a única coisa que não posso fazer. Talvez tu o consigas um dia. É muito difícil, é o único verdadeiramente difícil. Já sonhei em consegui-lo, mas não o consigo realizar, me dá medo. Não posso decidir-me a ficar tão desnudo e tão só em meio da vida; também eu sou um pobre cão fraco, que necessita de um pouco de calor e de alimento e gosta de sentir-se de vez em quando entre seus semelhantes. Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo ao seu lado somente os gélidos espaços infinitos.”

“Eu só esperava que meu destino se me apresentasse com uma nova imagem.”

"Todos os homens buscavam a 'liberdade' e a 'felicidade' num ponto qualquer do passado, só de medo de ver erguer-se diante deles a visão da responsabilidade própria e da própria trajetória."

"Nunca se chega ao porto. Mas quando duas rotas amigas coincidem, o mundo inteiro então nos parece o anelado porto."

“O que hoje existe não é comunidade, é simplesmente rebanho. Os homens se unem porque têm medo uns dos outros e cada um se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de operários, rebanho de intelectuais... E por que têm medo? Só se tem medo quando não se está de acordo consigo mesmo.”

Eu e Outras Poesias - Augusto dos Anjos

“Desde então para cá fiquei sombrio 
Um penetrante e corrosivo frio 
Anestesiou-me a sensibilidade 
E a grandes golpes arrancou raízes 
Que prendiam meus dias infelizes 
A um sonho antigo de felicidade!” 

“Meu coração, como um cristal, se quebre, 
O termômetro negue minha febre, 
Torne-se gelo o sangue que me abrasa, 
E eu me converta na cegonha triste 
Que das ruínas duma casa assiste 
Ao desmoronamento de outra casa!” 

“Bati nas pedras dum tormento rude 
E a minha mágoa de hoje é tão intensa 
Que eu penso que a alegria é uma doença 
E a tristeza é minha única saúde.” 

"Dizes que sou feliz. Não mentes.
Dizes Tudo que sentes.
A infelicidade
Parece às vezes com a felicidade
E os infelizes mostram ser felizes!"

"(...) Ah! Se me ouvisses falando! 
(E eu sei que às dores resiste) 
Dir-te-ia coisas tão tristes 
Que acabarias chorando. 
Que mal o amor tem me feito! 
Duvidas?! Pois, se duvidas, 
Vem cá, olha estas feridas 
Que o amor abriu em meu peito. 
Passo longos dias, a esmo... 
Não me queixo mais da sorte 
Nem tenho medo da Morte 
Que eu tenho a Morte em mim mesmo!" 

"Homem, carne sem luz, criatura cega, 
Realidade geográfica infeliz 
O Universo calado te renega 
E a tua própria boca te maldiz! 
O nôumeno e o fenômeno, o alfa e o ômega 
Amarguram-te. Hebdômadas hostis 
Passam... Teu coração te desagrega, 
Sangram-te os olhos, e, entretanto, ris! 
Fruto injustificável dentre os frutos, 
Montão de estercorária argila, 
Excrescência de terra singular. 
Deixa a tua alegria aos seres brutos, 
Porque, na superfície do planeta, 
Tu só tens um direito:  o de chorar!"

Noite na Taverna - Álvares de Azevedo

"Minha história? Escutais: o passado é um túmulo! Perguntai ao sepulcro a história do cadáver! Ele guarda o segredo... dir-vos-á apenas que tem no seio um corpo que se corrompe! Lerei sobre a lousa um nome  e não mais!"

1984 - George Orwell

"Nosso pior inimigo, refletiu, é o sistema nervoso."

"Pensou, com uma espécie de assombro, na inutilidade biológica da dor e do medo, na traição do corpo humano que sempre se congela na inércia, no momento exato em que dele se exige esforço especial."

"Graças à falta de compreensão, permaneciam sãs de juízo. Apenas engoliam tudo, e o que engoliam não lhes fazia mal, porque não deixava resíduo, do mesmo modo que um grão de milho passa, sem ser digerido, pelo corpo de uma ave."

"Ocorreu-lhe que a vida toda de um homem era desempenhar um papel, e que achava perigoso abandonar, por um momento que fosse, sua falsa personalidade."

"No passado, a necessidade de uma forma hierárquica de sociedade fora uma doutrina especificamente da Alta. Fora pregada por reis, aristocratas e sacerdotes, advogados, que a parasitavam, e fora geralmente amaciada por promessas de recompensa em um mundo imaginário de além-túmulo."

"Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre."

Fragmentos trazidos pelo vento

"É injusto que se apeguem a mim, embora o façam com prazer e voluntariamente. Eu iludiria aqueles em quem despertasse desejo, pois não sou o fim de ninguém e não tenho com o que satisfazê-los. Não estou eu pronto a morrer? E, assim, o objeto de apego dessas pessoas logo morrerá. Logo, quando não seria eu culpado por fazer crer numa falsidade, embora eu a adoçasse a acreditasse nela com prazer, e que ela me desse prazer, ainda assim sou culpado de me fazer amar. E, se atraio as pessoas para que se apeguem a mim, devo advertir aqueles que estariam prontos a consentir na mentira de que não devem acreditar, qualquer que seja a vantagem que daí me advenha." (Blaise Pascal - Pensamentos)