"Uma hora, o destino exige um sacrifício tão grande para continuarmos vivendo que a gente se cansa: em nome do quê vou passar por isso?"
"Nas limitações ao funcionamento do corpo, as expectativas em relação ao que nos cerca podem mudar radicalmente – o essencial torna-se supérfluo, e vice-versa, numa fração de segundo. Um doente que não consegue se alimentar há uma semana é capaz de chorar de emoção ao engolir três colheradas de sopa de mandioquinha; outro comemora a proeza de andar até o banheiro com a alegria de quem ganhou a maratona de Nova York. Só quem padece de dores contínuas conhece o prazer de passar duas horas sem elas."
"Ao fechar os olhos diante da perda da integridade física do outro, procuramos afastar de nós o desconforto da lembrança de nossa própria efemeridade."
"Vocês, mais moços, não podem ver lágrimas nos olhos dos doentes. Dão as piores notícias e querem vê-los reagir com alegria, como se nada houvesse. Deixa chorar, que man existe? O choro é uma reação exclusiva do cérebro humano, fundamental para descarregar tensões emocionais, acalmar e trazer sabedoria ao espírito para aceitar a realidade."
"Tive vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos, no primeiro dia de aula, o que nunca ouvira de meus professores: na medicina, curar é o objetivo secundário, se tanto. A finalidade primordial da nossa profissão é aliviar o sofrimento humano."
"Quanta diferença haveria entre nascer num lugar sem gente pobre como Estocolmo e num bairro operário de São Paulo? Se eu tivesse recebido a mesma educação e fosse tão bonito quanto aquele rapaz, minha vida teria sido mais fácil? Mais feliz?"
"Como não existíamos (portanto, não fomos consultados para vir ao mundo), consideramos a vida uma dádiva da natureza, e nosso corpo, uma entidade construída à imagem e semelhança de Deus, exclusivamente para nos trazer felicidade, atender aos nossos caprichos e nos proporcionar prazer."
"Sempre fui explosivo: brigava no trânsito, xingava os outros, ficava irritado por qualquer bobagem, já acordava chateado sem saber por quê. Quando entendi que podia morrer, pensei: não tem cabimento desperdiçar o resto da vida. Virei Albert Einstein, o defensor da relatividade: quando alguma coisa me desagrada, procuro avaliar que importância ela tem no universo. Descobri que é possível ser feliz até quando estou triste."
"Não aguento mais fazer sala pra visitantes que só falam banalidades! Fraco desse jeito, que interesse posso ter nos gols do centroavante do Palmeiras, no carro novo que o sogro do meu vizinho comprou ou nas gracinhas do gato angorá da minha cunhada?"
"Mesmo a intenção do médico, em princípio elogiável, de procurar transmitir otimismo a seus pacientes pode servir paradoxalmente ao propósito de evitar contato com as questões mais graves que os afligem. Todos nós, de alguma forma, em determinados momentos, agimos dessa maneira: desqualificamos queixas, tergiversamos, acenamos com esperanças vãs, lançamos mão da explicação mais imediata para nos livrar de perguntas incômodas e encurtamos ao máximo a duração das visitas aos que estão deprimidos ou excessivamente pessimistas. Muitas vezes, tomamos tais atitudes sem nos dar conta, para nos defender de desgastes emocionais; outras vezes, em consequência do excesso de trabalho, por falta de empatia ou por não termos energia suficiente para manifestar ao outro a solidariedade que esperaria de nós."
"A casa de campo não representava mais nada, aliás, nenhum lugar ou bem material tem significado algum. Quando o tempo é curto, o que interessa é estar atento aos pequenos prazeres, como ouvir o sabiá que me acordou essa manhã, e aproveitar em toda a sua intensidade a companhia das pessoas queridas."
"Custei a aceitar a constatação de que muitos dos meus
pacientes encontravam novos significados para a existência ao senti-la
esvair-se, a ponto de adquirirem mais sabedoria e viverem mais felizes
que antes, mas essa descoberta transformou minha vida pessoal: será que
com esforço não consigo aprender a pensar e a agir como eles enquanto
tenho saúde?"