Clube da Luta - Chuck Palahniuck

“Você compra móveis. E pensa, este é o último sofá que vou comprar na vida. Compra o sofá, e por um par de anos fica satisfeito porque, aconteça o que acontecer, ao menos tem o seu sofá. Depois precisa de um bom aparelho de jantar. Depois de uma cama perfeita. De cortinas. E de tapetes. Então cai prisioneiro de seu adorável ninho e as coisas que antes lhe pertenciam passam a possuir você.”

“Há uma série de coisas que não queremos saber sobre as pessoas que amamos.”

“O incrível milagre da morte: num instante você está andando e conversando, no outro não passa de um objeto.”

Discurso do Método - René Descartes

“Pois não basta ter o espírito bom, mas o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, assim como das maiores virtudes.”

“Sei o quanto estamos sujeitos a nos enganar naquilo que nos diz respeito, e também o quanto os pensamentos de nossos amigos nos devem ser suspeitos, quando estão a nosso favor.”

“É bom saber alguma coisa dos costumes de vários povos para julgarmos os nossos mais salutarmente, e para não pensarmos que tudo o que é contra nossos modos é ridículo e contra a razão.”

“Os que têm o raciocínio mais forte e melhor digerem seus pensamentos, a fim de torná-los claros e Inteligíveis, são os que melhor podem persuadir do que propõem.”

“Aprendi a não crer com muita firmeza em nada do que só me fora persuadido pelo exemplo e pelo costume.”

“Quantos às opiniões que até então eu aceitara, o melhor que podia fazer era suprimi-las de uma vez por todas, a fim de substituí-las depois, ou por outras melhores, ou então pelas mesmas, quando eu as tivesse ajustado ao nível da razão.”

Quino

"É que, na medida em que não creio no ser humano... O problema não está nos regimes políticos, mas no homem, que eu acho que não funciona muito bem."

Millôr Definitivo, A Bíblia do Caos - Millôr Fernandes

“O cérebro humano, porém, atingiu tal complexidade que começou a falhar e permitiu ao homem o conhecimento de duas ou três besteiras que não o ajudaram em nada. Nenhuma elaboração oriunda do cérebro serviu para tornar o ser humano mais feliz e o conhecimento de meia dúzia de premonições tolas – como a certeza do envelhecimento e da morte – o tornou o mais infeliz dos animais.”

“A monotonia me faz lamentar de novo o erro do Todo-Poderoso não ter inventado o corte. Os cineastas, brilhantemente, corrigiram isso. Mas a vida continua com cenas muito longas. Deveríamos poder cortar onde quiséssemos, passar pra cena seguinte, ou pro mês seguinte.”

“Uma crença não é mais verdadeira por ser unânime, nem menos verdadeira por ser solitária.”

“Minha maior decepção comigo mesmo foi no dia em que descobri que também estava sujeito à condição humana.”

“O homem é um animal que se justifica.”

“O macaco volta à cena / E pergunta pro homem / Acha que valeu a pena?”

“Todo o mundo é um palco. Mas não precisava tanto exibicionismo.”

“Com vinte milhões de anos de vida sobre a terra, o homem atingiu a civilização apenas nos últimos dez mil. Uma civilização, uma cultura, uma capacidade de domínio e apropriação das forças e mistérios da natureza de que nenhum animal jamais se aproximou. Com isso – vinte milhões de anos de vida, mas apenas dez mil de civilização – é o único animal que tornou possível uma coisa antes inacreditável – sua auto-destruição como espécie. Dando ainda, de lambuja, a destruição de todas as outras. Nada indica que o homem consiga escapar de sua própria fúria e estupidez nos próximos dez, cem ou, no máximo, mil anos.”

“Fé é o medo de ser descrente.”

“Com fé realmente profunda adquirimos o direito à irresponsabilidade.”

“Cada dia há mais gente assistindo à televisão como fuga da realidade. E como é que eu faço pra fugir da televisão?”

“Deus, como se sabe, pra fazer o mundo não usou régua e compasso, apenas o verbo. Daí a falta de perspectiva.”

“O ideal é ter, sem que o ter te tenha.”

“Quando você se sente um perfeito idiota, está começando a deixar de sê-lo.”

“O pouco que a gente sabe bota na vitrine. E o montão que ignora esconde no porão.”

“Ignorância é o que todo mundo tem na mesma proporção, só que em outra coisa.”

“Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem!”

“Dizer que nos darão liberdade é besteira. Podem nô-la tirar. Mas não podem nô-la dar. Que língua, a nossa!”

“A liberdade é um produto da alucinação coletiva.”

“Estão usando a língua como sempre. Mas cada vez usam menos o idioma.”

“O que os olhos não vêem a língua inventa.”

“Todo mundo é maluco. Depende de onde você cutuca.”

“As pessoas que falam muito mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.”

“As idiotices do dia-a-dia ganham extraordinário efeito filosófico ou poético quando pronunciadas no leito de morte.”

“Existe no mundo algo mais assustador do que pessoas assustadas?”

“Nossa pretensão ou humildade depende sempre do poder, importância ou tamanho do interlocutor.”

“A realidade brasileira está cada dia mais inacreditável.”

“Cada vez tenho mais dificuldade em aceitar o mundo como ele é. E tenho a vaga impressão de que a recíproca é verdadeira.”

“Em certo momento ficou evidente que o homem evoluiu do macaco. Como é evidente agora já estar voltando.”

“O possível está, semanticamente, contido no impossível.”

“Os olhos acreditam no que vêem. Os ouvidos acreditam no que as outras pessoas viram.”

“Televisão, a vida de segunda mão.”

“Quando você está fora de si, o pessoal vê melhor o que você tem dentro.”

“Pois vista todos têm. Visão é que são elas.”

“Introspecções – mergulho que o cavalheiro faz em si mesmo numa busca de verdades interiores, já que aqui fora estamos em falta.”

O Homem e a Gente - José Ortega y Gasset

“Quando os homens não têm nada claro a dizer sobre alguma coisa, em vez de calar-se, costumam fazer o contrário: dizem em superlativo, isto é, gritam.”

“O único fora cabível, fora, é precisamente um dentro, um intus, a intimidade do homem, seu si mesmo, que está constituído principalmente por idéias.”

“A vida de outro, ainda mesmo daquele que nos esteja tão próximo e íntimo, já é para mim mero espetáculo, como a árvore, a rocha, a nuvem viajeira. Vejo-a mas não a sou, isto é, não a vivo. Se lhe doem os dentes a outro, a mim me é patente a sua fisionomia, a figura de seus músculos contraídos; ele é o espetáculo de alguém afligido pela dor, mas essa dor de dente não me dói a mim e, portanto, o que tenho dela não se parece nada daquilo que tenho quando os dentes doem a mim. Em rigor, a dor de dentes do próximo é ultimamente uma suposição, hipótese ou presunção minha, é uma dor presuntiva. A minha, no entanto, é inquestionável.”

“Privilégio tremendo e glória que o homem goza e sofre por vezes – o de escolher a figura de sua própria morte: a morte do covarde ou a morte do herói, a morte feia ou a bela morte.”

“Viver significa ter de ser fora de mim, no absoluto fora que é a circunstância ou mundo: é ter de, querendo ou não, enfrentar-me e chocar-me, constantemente, incessantemente com quanto integra esse mundo: minerais, plantas, animais, os outros homens. Não há remédio. Tenho de atracar-me com tudo isso. Tenho de me ajustar-me, pior ou melhor, com tudo isso. Mas isso – encontrar-me com tudo e necessitar ajustar-me com tudo – isso me acontece ultimamente a mim só, e tenho de fazê-lo solitariamente.”

“Desse fundo de solidão radical que é, sem remédio, nossa vida, emergimos constantemente em uma ânsia, não menos radical, de companhia. Quereríamos achar aquele cuja vida se fundisse integralmente, se interpenetrasse com a nossa. Para tanto, fazemos as mais várias tentativas. Uma é a amizade. Mas a suprema entre elas é a que chamamos de amor. O autêntico amor não é senão a tentavia de permutar duas solidões.”

“A circunstância nos apresenta sempre diversas possibilidades de fazer, portanto: de ser. Isso nos obriga a exercer, queiramos ou não queiramos, a nossa liberdade. Somos livres à força.”

“Nietzsche já disse o essencial: ‘Sentimo-nos tão tranquilos e tão à vontade na pura natureza porque esta não tem opinião sobre nós’.”

“Na solidão o homem é a sua verdade – na sociedade tende a ser sua mera convencionalidade ou falsificação.”

“A cortesia, como veremos mais adiante, é uma técnica social que torna mais suave esse choque, e luta, e atrito, que é a sociedade. Cria uma série de molas mínimas em torno de cada indivíduo, molas que atenuam as marradas dos demais contra nós e nossas contra eles.”

“Comportamo-nos em nossas vidas orientando-nos, nos pensamentos que temos, sobre o que as coisas são; mas se dermos um balanço dessas idéias ou opiniões, com as quais e das quais vivemos, acharemos com surpresa que muitas delas – talvez a maioria – não as pensamos nunca por nossa conta, com plena e responsável evidência de sua verdade; ao contrário, pensamo-las porque as ouvimos e dizemo-las porque se dizem.”

“Na medida em que penso e falo – não por própria e individual evidência, mas repetindo isso que se diz e que se opina – minha vida deixa de ser minha, deixo de ser o personagem individualíssimo que sou, e atuo por conta da sociedade: suo um autômato social, estou socializado.”

“A coletividade é, sem dúvida, algo humano; mas é o humano sem o homem, o humano sem alma, o humano desumanizado.”

A Publicidade é um Cadáver que nos Sorri - Oliviero Toscani

“A publicidade despende dezenas de milhares de dólares para mostrar uma estrela de cinema usando água de colônia que, na verdade, deseja vender às apaixonadas sem grana e às secretárias românticas do mundo inteiro. Tenta induzi-las em nome de um sonho burguês inacessível. A publicidade não vende produtos nem idéias, mas um modelo falsificado e hipnótico da felicidade.”

“É preciso seduzir o grande público com um modelo de existência cujo padrão exige uma renovação constante do guarda-roupa, dos móveis, televisão, carro, eletrodomésticos, brinquedos das crianças, todos os objetos do dia-a-dia. Mesmo que não sejam verdadeiramente úteis.”

“A publicidade oferece aos nosso desejos um universo subliminar que insinua que a juventude, a saúde, a virilidade, bem como a feminilidade, dependem daquilo que compramos.”

“Essa publicidade, feita para vender, na verdade o está comprando.”

“Todas as guerras terminam em cemitérios.”

“Dize-me o que te incomoda e te direi quem és.”

“Se você não se coloca em perigo, se não ousa ir na direção do desconhecido, não poderá senão recriar o que já existe, submeter-se aos lugares-comuns e aos hábitos.”

“Hoje em dia, o público acredita no que vê na televisão, nos telejornais, nos programas, nos anúncios. Aderem-se à verdade de uma imagem do jornal televisado, sem que se tenha assistido à ação diretamente. Tudo ganhou novas roupagens na montagem, foi transformado pelo enquadramento, acelerado, desacelerado.”

“É preciso parecer-se com o mundo de imagens dos anúncios para ver-se classificado dentro das normas sociais, reconhecido conforme, integrado, real.”

“A publicidade nos ensina como nos comportar na sociedade de consumo. (...) Essa formação se constitui, sem que o saibamos, de modo inconsciente, ela impõe seus critérios, sua normalidade, ela molda nossos gostos, nossos reflexos. Tornamo-nos todos filhos da publicidade.”