"'Certamente', prosseguiu Narciso, 'Naturezas como a sua, possuidoras de sentidos fortes e delicados, os anímicos, os sonhadores, os poetas, os amantes, são diferentes de nós, homens do espírito, e nos são quase sempre superiores. Vossa origem é materna. Viveis na plenitude e a vós vos foi dada a força do amor e da vivência. Quanto a nós outros, seres espirituais, embora pareçamos estar frequentemente vos dirigindo e vos governando, não vivemos na plenitude e sim na aridez; a vós pertence a fartura da vida, a vós o suco das frutas, a vós o jardim do amor, o belo país das artes. Vossa pátria é a terra; a nossa, a ideia. Vosso perigo está em vos afogardes no mundo dos sentidos; o nosso, em sufocarmos no vácuo. Você é artista; eu, pensador. Você dorme no regaço materno; eu acordo no deserto. Para mim brilha o sol; para você, a lua e as estrelas..."