O vampiro Lestat - Anne Rice

"O que quer que eu tenha prendido ou sentido quando lutava contra aqueles lobos permaneceu em minha mente mesmo enquanto eu caminhava. Cada vez que eu tropeçava e caía, algo em mim se endurecia, tornava-se pior." 

"– Toque de novo – eu disse. – A música é inocente."

"Eu não fazia mais parte do mundo que se encolhia de medo daquelas coisas. E, com um sorriso, percebi que eu era agora parte daquela família sombria que fazia os outros se encolherem de medo."

"Depois sair da cidade, ir para o campo. Ir para onde não haja nenhum homem nem mulher por perto. Ir para onde haja apenas o vento, as árvores escuras e as estrelas no céu. Abençoado silêncio." 

"Teria sido esse o perigo o tempo todo, o gatilho do meu medo? Mesmo enquanto admitia isso, eu estava me rendendo e pareceu que todas as grandes lições da minha vida foram aprendidas através da renúncia ao medo. Mais uma vez, o medo estava rompendo sua concha em torno de mim para que alguma outra coisa pudesse saltar para a vida."

"Não tem importância. Se lhe agrada, fique com ela. Eu não perco aquilo que dou."

"– Quando o mundo dos homens sucumbir em ruínas, a beleza tomará conta de tudo. As árvores crescerão de novo onde havia ruas; as flores irão cobrir de novo os campo que agora não passam de um pantanal de choupanas. Este será o propósito do mestre satânico, ver a grama selvagem e a densa floresta cobrirem todos os vestígios das grandes cidades do passado até nada mais restar. 
– E por que chamar tudo isso de satânico? – perguntei. – Por que não chamar de caos? Pois é tudo que seria.
– Porque – ela disse – é assim que os homens chamariam. Eles inventaram Satã, não foi? Satânico é apenas o nome que eles dão para o comportamento daqueles que tentam perturbar a maneira sistemática com a qual desejam viver."

"Eu me apaixonava pelo ser. Imaginava amizade, conversas, uma intimidade que jamais poderíamos ter. Em algum momento mágico e imaginário, eu diria: 'Mas você sabe o que sou', e aquele ser humano com suprema compreensão espiritual diria: 'Sim, eu sei. E compreendo.'"

"– Mas, depois de ter-lhe transmitido tudo que tenho , você estará exatamente onde estava antes: um ser imortal que precisa encontrar suas próprias razões para existir."

"Muitos poucos seres procuram realmente o conhecimento neste mundo. Mortais ou imortais, poucos perguntam de fato. Pelo contrário, eles tentam arrancar à força do desconhecido as respostas que já formaram em suas mentes... justificativas, confirmações, fórmulas de consolo sem as quais não podem continuar. Perguntar de fato é abrir a porta para um furacão. A resposta pode aniquilar a pergunta e quem a fez. Mas você tem andado perguntando de fato desde que deixou Paris há dez anos."

"– Você tem poucas ideias preconcebidas – ele disse. – Na verdade, o que me surpreendeu em você foi sua extraordinária simplicidade. Você quer um objetivo. Quer amor. 
– É verdade – eu disse com um leve encolher de ombros. – Bastante primário, não?
Ele deu outra risada suave: 
– Não. Não é mesmo. É como se mil e oitocentos anos de civilização ocidental tivessem produzido um inocente. 
– Um inocente? Você não pode estar falando de mim. 
– Fala-se tanto neste século sobre a nobreza do selvagem – ele explicou. – Sobre a força corruptora da civilização, do modo como temos de encontrar nosso caminho de volta à inocência que foi perdida. Bem, tudo isso é absurdo. Os povos primitivos de verdade são capazes de ser monstruosos em suas suposições e expectativas. Eles não conseguem fazer ideia da inocência. Assim como as crianças. Mas a civilização criou enfim homens que se comportam de modo inocente. Pela primeira vez, eles olham em volta de si mesmos e dizem: 'Que diabos é tudo isto?"'