"Nada nesse mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais."
"Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria."
"O que é a meditação? O que é o abandono do corpo? Que significa o jejum? E a suspensão do fôlego? São modos de fugirmos de nós mesmos. São momentos durante os quais o homem escapa à tortura de seu eu. Fazem-nos esquecer, passageiramente, o sofrimento e a insensatez da vida. A mesma fuga, o mesmíssimo esquecimento, o boiadeiro encontra-os na estalagem, quando bebe algumas tigelas de vinho de arroz ou de leite de coco fermentado. Então cessa de sentir o seu eu, cessa de padecer dores, anestesia-se por algum tempo. Ao adormecer, junto à tigela de vinho de arroz, consegue o mesmo efeito que provocam Sidarta e Govinda, cada vez que, depois de prolongados exercícios, se distanciam de seus corpos, a fim de entrarem no não eu."
"Mergulhava até o fundo dessa emoção, assim como se mergulha na água, para alcançar-se o ponto onde repousam as causas. Pois lhe parecia que o verdadeiro pensar consistia no reconhecimento das causas e que, desse modo, o sentir se convertia em saber, o qual, em vez de dissipar-se, criaria forma concreta e irradiaria o seu teor."
"Ao observar aquela existência infantil ou animalesca que levavam os seres humanos, ao mesmo tempo adorava e desprezava tal estilo de vida. Via como labutavam, sofriam, envelheciam por causa de assuntos que não lhe pareciam valer tamanho esforço e como se empenhavam em obter dinheiro, prazeres minúsculos, honrarias insignificantes. Ouvia como se censuravam e se insultavam mutuamente, como choravam suas dores que fariam rir a um samana, e notava o quanto lhes custavam certas privações que um samana nem sequer sentiria."
"No teu íntimo há calma e asilo, e a qualquer instante podes retirar-te dali, para estares a sós contigo mesma, assim como eu também o sei fazer. Poucos homens têm essa faculdade e, todavia, não há nenhum que não possa gozar dela."
"Os homens do mundo, aqueles tolos, permaneciam estranhos a ele, assim como o próprio Sidarta sempre se sentia um estranho em seu meio."
"Não te esqueças, meu querido: o mundo das configurações altera-se a cada instante. Perecíveis, sumamente perecíveis são os nossos trajes e os penteados dos nossos cabelos, assim como também os próprios cabelos e corpos."
"Careci passar por tamanha insensatez, por tantos vícios e erros, por um sem número de desgostos, desilusões, tristezas, só para voltar a ser criança e para começar de novo."
"Olha, há mais uma coisa que a água já te mostrou: que é bom descer, abaixar-se procurar as profundezas."
" Quando alguém procura muito – explicou Sidarta – pode facilmente acontecer que seus olhos se concentrem exclusivamente no objeto procurado e que ele fique incapaz de achar o que quer que seja, tornando-se inacessível a tudo e a qualquer coisa porque sempre só pensa naquele objeto, e porque tem uma meta, que o obceca inteiramente. Procurar significa: ter uma meta. Mas achar significa: estar livre, abrir-se a tudo, não ter meta alguma. Pode ser que tu, ó Venerável, sejas realmente um buscador, já que, no afã de te aproximares da tua meta, não enxergas certas coisas que se encontram bem perto dos teus olhos."