“O Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um é somente a ausência do outro.”
“Nada começa que não tenha que acabar, tudo o que começa nasce do que acabou.”
“Uma ausência exterior, como se o mundo, de um momento para outro, se tivesse apagado ou posto à distância.”
“O seu pensar não foi assim tão claro, o pensamento, afinal de contas, já por outros, ou o mesmo, foi dito, é como um grosso novelo de fio enrolado sobre si mesmo, frouxo nuns pontos, noutros apertado até a sufocação e ao estrangulamento, está aqui, dentro da cabeça, mas é impossível conhecer-lhe a extensão toda, seria preciso desenrolá-lo, estendê-lo, e finalmente medi-lo, mas isto, por mais que se intente, ou finja intentar, parece que não o pode fazer o próprio sem ajudas, alguém tem que vir um dia dizer por onde se deve cortar o cordão que liga o homem ao seu umbigo, atar o pensamento à sua causa.”
“O espelho e o sonho são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.”
“Sentindo-se a cada momento prestes a abandonar o mundo, como se estivesse suspensa de um fio delgado que fosse seu último pensamento, um puro pensar sem objetos nem palavras, apenas saber que se está pensando, e não poder saber em quê e para que fim.”
“Cada um de nós é este pouco e este muito, esta bondade e esta maldade, esta paz e esta guerra, revolta e mansidão.”
“Quem és tu, que comigo te pareces, mas a quem não sei reconhecer (...) o certo é que um silêncio como este, quando fixamente olhamos a chama de uma fogueira e calamos, se quisermos traduzi-lo em palavras, não há outras senão aquelas, e dizem tudo.”
“A José quase apetece travar o passo para chegar atrasado aos problemas que o esperam.”
“Deserto é tudo quanto esteja ausente dos homens, ainda que não devamos esquecer que não é raro encontrar desertos e securas mortais em meio de multidões.”
“O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por este mesmo e único motivo.”
“Então, já não chorava, mas seus olhos nunca mais voltarão a estar secos, que este é o choro que não tem remédio, aquele lume contínuo que queima as lágrimas antes que elas possam surgir e rolar pelas faces.”
“Passavam e não acabavam de passar, tal uma serpente de que não vemos nem a cabeça nem o rabo e que ao mover-se é como se não tivesse fim, entra-nos no coração o medo, assim eram aquelas tropas marchando atrás de um morto, mas também em direção à sua própria morte, aquela de cada um, que mesmo quando parece demorar-se sempre acaba por bater-nos à porta, São horas, diz ela, pontual, sem diferença, tanto faz com reis ou com escravos...”
“O dia de amanhã não se sabe a quem pertence, há quem diga que a Deus, é uma hipótese tão boa como a outra, a de não pertencer a ninguém, e tudo isso, ontem, hoje e amanhã, não serem mais do que diferentes nomes da ilusão.”
“Não tens que levar contigo toda a culpa, e, no segredo do seu coração, quiçá ouse perguntar, Quando chegará, Senhor, o dia em que virás a nós para reconheceres os teus erros perante os homens.”
“O carpinteiro levantou os olhos para as três grandes pedras que, lá no alto, juntas como gomos de um fruto, pareciam estar esperando que do céu e da terra lhes chegasse a resposta às perguntas que lhes fazem todos os seres e coisas, apenas por existirem, ainda que não as pronunciem, Por que estou aqui, Que razão conhecida ou ignorada me explica.”
“Branco sangue que é a lágrima.”
“Talvez os homens nasçam com a verdade dentro de si e só não a digam porque não acreditam que ela seja verdade.”
“A ausência é também uma morte, a única e importante diferença é a esperança.”
“Não vejamos sempre, nós homens, as mesmas coisas da mesma maneira, o que aliás, tem se mostrado excelente para a sobrevivência e relativa sanidade mental da espécie.”
“A força da primavera seria nada se o inverno não tivesse dormido.”
“O medo comum é assim, une facilmente as diferenças.”
"A história de Deus não é toda divina."
“É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue.”
“Sendo Deus, tens de saber tudo, Até um certo ponto, só até certo ponto, Que ponto, O ponto em que começa a ser interessante fazer de conta que ignoro.”
"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez."