A Rebelião de Lúcifer - J.J. Benitez

"O homem, salvo exceções, está perdido e confuso. Não sabe por que nasceu nem qual é seu destino fina. Não entende a dor e se rebela contra Deus e contra si mesmo, sem descobrir que tudo isso não é por acaso. O conhecimento, definitivamente, sempre serviu para serenar o espírito dos humanos e acelerar seu caminho rumo à suprema perfeição."

"A existência divina nunca poderá ser provada nem compreendida por meio de experiências científicas ou de deduções lógicas da razão pura. Ninguém pode conceber claramente a Deus senão fora dos reinos da experiência humana. Porém, como você sabe, o verdadeiro conceito da realidade de Deus é razoável para a lógica, plausível para a filosofia, essencial para a religião e indispensável para toda esperança de sobrevivência pessoal."

"– No dia em que tiverdes acesso a essa parte da Verdade – concluiu com uma velha e suspeita citação bíblia – vossos olhos se abrirão... Então, só então, compreendereis que o Bem e o Mal são irreais. Que as promessas de salvação que apregoam vossas igrejas nada são além de astutas chantagens para obter a submissão dos humanos, ou seja, o poder..."

"A humanidade, vós, não teme mais as forças da natureza. O progresso deu lugar a uma nova forma de religião: a da mente. Um sem-fim de igrejas na luta pela posse exclusiva da Verdade. Todas dispões de sua própria teologia e baseiam sua existência no princípio dogmático e indiscutível da autoridade. Milhões de seres humanos aceitam sem discussão a proteção dessas religiões, que pedem, em troca, uma cega e total submissão. Perfeitamente estabelecidas e cristalizadas, essas igrejas são o refúgio mais confortável para aquelas mentes que se veem assaltadas pelas dúvidas e pela incerteza. O preço a pagar é a docilidade e assentimento intelectual a princípios, ritos e dogmas que, apesar do infantilismo e da fossilização, são tidos e considerados como revelações divinas, manifestações sagradas e caminho de perfeição. À frente dessas igrejas, vós sabeis, há centenas de milhares de novos feiticeiros, empenhados, principalmente, na vigilância e manutenção desse princípio de autoridade. Obviamente, não dançam em volta do fogo nem fustigam seus fiéis com chicote, mas houve um tempo em que queimavam, torturavam e prendiam em nome de Deus. Hoje, sua tirania é mais cruel e extenuante: utilizam a obscura magia de palavras como fé ou salvação para acabar cm qualquer tentativa de liberdade e de busca espiritual. É a religião do dogma."

"E eu lhe pergunto: sabe de algum ser humano realmente inteligente que seja arrogante? Os seres inteligentes de verdade são, quase sempre, os mais humildes..."

"O desenvolvimento da civilização em teu mundo não é muito diferente de outros planetas que padeceram o infortúnio do isolamento espiritual. Mas, se comparada aos mundos leais a Micael, Iurancha, de fato, é um lugar confuso e atrasado. Devido a essa involução cósmica, os humanos de teu mundo não podem compreender a cultura de outros planetas. E nem sequer conhecem a existência dessas civilizações. O nível biológico de vossas raças encontra-se alterado e extremamente atrasado e sois vítimas da falta de verdadeiros ideais. Mas não te confundas, Sinuhé: à primeira vista, Iurancha é um mundo desventurado. Certo. Porém, o isolamento também oferece vantagens. 
– Vantagens? disse Sinuhé com ceticismo.
A incomunicabilidade dessas esferas permite o exercício de uma virtude sem igual: a fé. O desenvolvimento dessas qualidade, à margem da vista e de qualquer outra consideração material, fortalece os espíritos dos mortais desses mundos até limites inimagináveis. (...) São, ou melhor, sois seres capazes de vencer nas missões mais difíceis."

"Se houvesse contado com um príncipe planetário honesto e com Filhos Materiais firmes, as raças humanas de teu mundo, como todas as do espaço e do tempo, teriam conhecido os seguintes estágios: A Era da Nutrição: nessas épocas, as criaturas pré-humanas e as raças iniciais vivem principalmente para a alimentação e a sobrevivência física. A busca de comida é seu único e básico horizonte. A Era da Segurança: assim que os caçadores primitivos dispõem de alimentação abundante, todo o seu tempo é destinado a reforçar sua segurança e a do clã. Assim, nascem novas técnicas guerreiras e de construção de casas. A Era do Conforto e dos Prazeres: após resolver seus problemas de alimentação e segurança, os homens caem no luxo e na órbita dos prazeres. São épocas que se caracterizam pela tirania em todos os níveis, pela intolerância, a gula, a embriaguez e o que hoje chamais de consumismo desenfreado. A Era da Busca da Sabedoria e do Conhecimento: a alimentação, a segurança, o prazer e o ócio são as bases que permitem o desenvolvimento da cultura e da inteligência. O esforço para pôr os conhecimentos em prática acaba na sabedoria. A obsessão pelo bem-estar material domina ainda essa civilização, mas muitos indivíduos já apontam para outro horizonte: o do conhecimento. Em geral, a educação e a cultura são o grande triunfo dessa era. A Era da Filosofia e da Fraternidade: quando os mortais aprendem a pensar por si mesmos e a tirar proveito da experiência, surge a Filosofia. A sociedade, então, torna-se ética e seus homens, morais. E só esses seres sábios e realmente morais são os capacitados para estabelecer uma verdadeira irmandade humana. A Era do Esforço Espiritual: quando os mortais evoluem e passam pelos estágios de desenvolvimento físico, intelectual e social, cedo ou tarde atingem os níveis de clarividência, que os conduzem irremediavelmente à busca de satisfações espirituais e à compreensão das verdades cósmicas. As religiões conseguem se elevar acima das motivações do medo e da superstição, até a verdadeira sabedoria da experiência pessoal. Os humanos dessa era conhecem, pela primeira vez, o alcance da palavra Deus. A Era da Luz e da Vida: é o florescimento as eras sucessivas da segurança física, da expansão intelectual e espiritual. Os desejos e objetivos humanos fundem-se, então, com os de outros seres celestes. É a época final, na qual não existem fronteiras. O intercâmbio com outras civilizações é total. Nesses tempos, os príncipes planetários dos mundos ancorados na luz são elevados à posição de soberanos planetários. 
Não era preciso ser muito esperto para deduzir que a Terra – Iurancha – não havia superado a terceira era ainda: a do Conforto. E em algumas regiões do globo, os humanos ainda se debatem na primeira e na segunda. E embora não seja menos verdade que se pressente no planeta uma mudança – um salto, talvez, para essa outra Era da Busca do Conhecimento –, na realidade, o caminho a percorrer é imenso ainda."