Liber Null e Psiconauta - Peter J. Carroll

 "O campo mágico exige disciplina e é experimental."

"Estudantes reforçam suas vontades mágicas enfrentando o mais forte adversário possível – suas próprias mentes. Eles exploram as possibilidades de transformar a si próprios à vontade e exploram suas próprias habilidades ocultas em sonhos e atividades mágicas."

"Adeptos buscam a perfeição em todos os aspectos pessoais de seus poderes mágicos, sabedoria e libertação."

"Ao criar a vida do lodo primordial, o Caos sempre buscou aumentar as suas possibilidades de expressão e diversificar suas manifestações. Durante a evolução da vida houve muitos períodos de estagnação e algumas reviravoltas. Mas no fim, a superioridade inerente das criaturas, culturas, homens e ideias mais flexíveis, adaptáveis, inclusivos e complexos sempre vence. Almejar essas qualidades é obter mais libertação do que qualquer façanha bizarra que renúncia ou reorganização de poder político podem vir a criar."

"É errado considerar que qualquer crença liberta mais do que outra. O que importa é a possibilidade de mudar. Cada nova forma de libertação é destinada a algum dia tornar-se outra forma de escravidão para a maioria daqueles que a seguem. Não há independência da dualidade neste plano de existência, mas pelo menos se pode aspirar à escolha da dualidade. Comportamento libertador é aquele que aumenta suas possibilidades de ação futura. Comportamento limitante é aquele que tende a estreitar suas opções. O segredo da liberdade é não ser atraído a situações as quais o número de alternativas se torna limitado ou mesmo unitário."

"Cada encarnação representa uma tarefa, um quebra-cabeça a ser resolvido, rumo a alguma forma maior de completude. A chave para esse quebra-cabeças está nos fenômenos do plano da dualidade em que nos encontramos. Estamos, por assim dizer, presos em um labirinto. A única coisa a fazer é não ficar parados e prestar atenção na forma como as paredes se curvam. Em um universo completamente caótico como esse, não há acidentes. Tudo é significante."

"Uma pessoa cumprindo sua verdadeira vontade é auxiliada pelo momento do universo, e parece possuir uma boa sorte assombrosa. Ao começar a grande obra da obtenção do conhecimento e conversação, o magista jura interpretar toda manifestação da existência como uma mensagem direta e pessoal do Caos para si. Fazer isso é entrar na visão de mundo mágica em sua totalidade. Ele assume completa responsabilidade por sua atual encarnação e deve considerar cada experiência, coisa ou informação que o atinge de qualquer fonte como um reflexo da forma que ele vem conduzindo sua existência."

"O magista deve começar a perceber todas as coincidências que o rodeiam, ao invés de dispensá-las. É comum perceber que logo antes de alguém dizer algo, ou de um evento ocorrer, sabia-se que ocorreria. (...) Se um esforço for aplicado à observação dessas ocorrências e ao registro das mesmas no diário mágico, elas começam a tornar-se muito mais numerosas."

"Ao tentar desenvolver a vontade, a mais fatal das armadilhas é confundir a vontade com o chauvinismo do ego. A vontade não é força de vontade, virilidade, obstinação ou dureza. Vontade é unidade de desejo."

"Apenas quando se está em estado de desejo múltiplo nós testemunhamos a agonia estúpida da força de vontade. Submeter-se a diversos juramentos, abstinências e testes é simplesmente criar conflitos na mente. A vontade sempre se manifestar-se-á como a vitória do desejo mais forte, e ainda assim o ego reage com aversão se o desejo escolhido falhar."

"A força vital sempre busca carne, corpo, ideias, emoções, experiências, etc, através de encarnações infinitas. Pois sem a carne, o Kia não tem um espelho para si, portanto não tem consciência, êxtase, nada. É ou esse nada ou a carne, e a condição da carne é dual. O estado perpétuo de guerra eterna é o preço, propósito e recompensa da existência."

"A cada momento, o consórcio de “eus” cria um novo rosto. Eu não sou quem eu era segundos atrás, muito menos ontem. Nosso nome é múltiplo. Eu sou uma colônia de seres que compartilham o mesmo envelope."

"O que é um deus senão um homem comandando a força do Caos?"

"A força que cria é também a que destrói. Os mecanismos celulares que possibilitam a reprodução e o crescimento são os mesmos que causam o envelhecimento e a morte."

"Em uma civilização como a nossa, tão afastada de fenômenos naturais, quase todos os medos e desejos são induzidos socialmente, ou até mesmo imaginários."

"Diariamente nossa cobiça e medo assumem proporções grotescas e bizarras."

"A criatividade da consciência se expandiu de forma tão incrível que a totalidade das ideias humanas parece dobrar a cada década. A ciência não causou isso, a ciência é um dos seus efeitos colaterais."

"O Deus monoteísta é apenas uma versão ampliada de uma imagem idealizada de nós mesmos, nossos pais ou reis."

"A evolução nos deixou com três cérebros. Ao invés de uma completa reestruturação do cérebro a cada etapa do avanço evolutivo, novos pedaços foram simplesmente acrescentados para cobrir novas funcionalidades. A parte mais nova do nosso cérebro é a que nos faz unicamente humanos. Apenas os símios tem algo similar. A próxima parte mais antiga é a que compartilhamos com os mamíferos em geral. As partes mais primitivas do cérebro são algo que os mamíferos, incluindo nós, compartilham com os répteis. O humano tem um homem, um lobo e um crocodilo vivendo dentro do crânio."

"Todos os dragões, serpentes e demônios escamosos dos mitos e pesadelos são atavismos reptilianos que surgem das partes mais antigas de nosso cérebro. A evolução não excluiu esses padrões de comportamento ancestrais; apenas os enterrou sob uma pilha de novas modificações. Assim, os deuses da mitologia, como representantes da consciência humana, suprimem os titãs e dragões da consciência mais antiga."

"Nosso ego é o que nossa mente pensa que nós somos. É uma imagem de nós mesmos que cresce a partir de nossas experiências de vida – nosso corpo, sexo, raça, religião, cultura, educação, socialização, medos e desejos. Há uma grande pressão para que desenvolvamos um ego integrado e assertivo. Deveríamos saber exatamente quem somos e no que acreditamos e ser capazes de defender essa identidade. Quando mais nos identificamos com algo, mais rejeitamos o seu oposto. Dessa forma, os egos mais fores e obsessivos pertencem aos seres menos completos. Para esses, há o problema adicional de que exaltar qualquer princípio mais cedo ou mais tarde atrairá seu oposto. Aqueles que exaltam a força ver-se-ão em uma posição de fraqueza. Aqueles que se esforçam pelo bem serão enredados pelo mal."

"Desenvolver um ego é como construir um castelo contra a realidade. Ele oferece certa defesa e um sendo de propósito, mas quanto maior ele é, mais convida ataques e, no fim, há de desmoronar. Há outro problema. Todas as fortalezas são também prisões. Como nossas crenças implicam uma rejeição de seus opostos, elas restringem fortemente nossa liberdade."