Orgulho e preconceito - Jane Austen

"O orgulho – observou Mary, que se gabava da solidez de suas reflexões – é um defeito muito comum. Por tudo o que eu já li, tenho certeza de que é muitíssimo comum mesmo; a natureza humana tem uma inclinação especial para esse defeito, e muito poucos dentro de nós não nutrem um sentimento de complacência para consigo mesmos, sob pretexto de uma ou outra qualidade, real ou imaginária. Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora sejam palavras usadas muitas vezes como sinônimos. A pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho está mais ligado à opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade ao que os outros pensam de nós."

"Mas era fácil calcular quão breve seria a felicidade de um casal que só se unira porque a paixão era maior que a virtude."

"Mas não penso mais naquela carta. Os sentimentos da pessoa que a escreveu e da pessoa que a recebeu são agora tão diferentes do que eram então, que todas as desagradáveis circunstâncias que as cercaram devem ser esquecidas. Você tem de aprender um pouco da minha filosofia. Só pense no passado quando as lembranças lhe trouxerem prazer."

A Utopia - Thomas More

"Cilas, Celenos e Harpias vorazes, lestrigões canibais e outros prodígios medonhos do gênero, em que lugar não se encontram? Mas homens vivendo em cidades sabiamente governadas, eis o que não se encontra em qualquer lugar."

"É a ameaça da penúria que faz o ser ávido e rapace, como o constatamos entre todos os seres vivos; o homem acrescenta a isso o orgulho, que lhe é próprio e que lhe dá a ilusão de ultrapassar os outros por uma exibição de superfluidades."

"Esse ouro e essa prata eles a conservam sem atribuir-lhes mais valor que o que comporta sua natureza própria. E quem não percebe que esta é bem inferior à do ferro, sem o qual os mortais não poderiam viver, como também não poderiam passar sem a água e o fogo, enquanto, ao contrário, a natureza não associou ao ouro e à prata nenhuma propriedade que nos seria preciosa, se a tolice dos homens não valorizasse o que é raro? A natureza, como a mais generosa das mães, pôs a nosso alcance imediato o que ela nos deu de melhor, o ar, a água, a própria terra; ao mesmo tempo, afasta de nós as coisas vãs e inúteis."

"Estes se espantam que um mortal possa se comprazer tanto com brilho incerto de uma pequena gema, quando pode contemplar as estrelas e o sol; que exista alguém tão insensato para se considerar enobrecido por uma vestimenta de uma lã mais fina. Pois, afinal, por mais delicado que seja o fio, a lã esteve outrora no lombo de uma ovelha e nunca deixará de ser ovelha. Eles se espantam também que o ouro, por natureza de pouca serventia, seja hoje em toda parte tão prezado, mais prezado até que o homem por quem e para quem seu valor foi conferido."

"Vemos delirar de alegria, na mesma ilusão de um prazer imaginário, os que se orgulham de ser nobres porque tiveram a chance de ter antepassados que o foram: gente que durante muitas gerações foi considerada rica – e a nobreza atualmente não o é mais – sobretudo em bens de raiz. Eles se julgam nobres mesmo se seus antepassados não lhes deixaram absolutamente nada, ou se eles próprios consumiram a herança. Os utopianos classificam na mesma categoria os doidos por gemas e pedras preciosas, que se sentem como deuses, poderíamos dizer, quando conseguem uma raridade, sobretudo se for da espécie em voga no momento, pois cada uma delas tem seus aficionados e suas épocas."