O Espírito do Zen - Alan Watts

"Um monge chega ao mestre Chao-chou e pergunta: 'Acabei de chegar a este mosteiro. O senhor poderia, por favor, me dar alguma instrução?' O mestre responde: 'Já comeste, ou não, a refeição matinal?', 'Sim, já o fiz, senhor', 'Então, lava as tuas tigelas'."

"Nada é mais fácil do que confundir a sabedoria de um sábio com a sua doutrina, pois, na ausência de qualquer compreensão da verdade, a descrição dessa compreensão feita por outrem é facilmente confundida com a própria verdade."

"O mundo é visto como separado porque a pessoa projeta nele o seu próprio estado de confusão e ignorância; assim, em cada um de nós há essa mente que observa as circunstâncias criadas por ela mesma e, de acordo com a natureza particular da expressão dessa mente nos indivíduos, são criados os ambientes que os envolvem."

"O homem olha para o mundo exterior para buscar sua salvação; imagina que poderá encontrar felicidade ao possuir algumas de suas formas. Mas não poderá encontrar felicidade nessas formas se não a puder encontrar em sua própria mente, pois é a sua mente que faz as formas..."

"O homem se apega às coisas na vã esperança de que elas possam permanecer imóveis e perfeitas; ele não se reconcilia com o fato da mudança (...) O homem notar e lamentar a mudança mostra que ele próprio não está se movendo com o ritmo da vida."

"Trata-se, portanto, do princípio de controlar as coisas entrando em harmonia com elas, do domínio através da adaptação."

"Com os olhos focalizados no horizonte, não vemos o que está aos nossos pés."

"Quanto mais firmemente tentamos captar o momento, para manter uma sensação agradável ou definir algo de uma maneira que possa ser satisfatória para sempre, mais ilusório ele se torna. Costuma-se dizer que definir é matar. Se o vento parasse por um segundo para que pudéssemos capturá-lo, ele deixaria de ser vento. O mesmo é verdade em relação à vida. As coisas e os fatos estão perpetuamente se mudando e se movendo; não podemos reter o momento presente e fazê-lo ficar conosco; não podemos chamar de volta o passado ou manter para sempre uma sensação passageira de si. Se tentarmos fazê-lo, tudo o que teremos será uma recordação; a realidade não está mais lá e nenhuma satisfação pode ser encontrada nisso."

"Há teólogos e filósofos que mostram grande preocupação se alguém questiona suas ideias acerca do universo, pois imaginam que dentro dessas ideias estão incrustadas as verdades definitivas. E pensam que, se perderem essas ideias, perderão a verdade."

"A moralidade é valiosa quando for reconhecida como um meio para atingir um fim; é uma boa serva, mas um mestre terrível. Quando os homens a usam como serva, ela permite que se adaptem à sociedade, e que se misturem facilmente com seus companheiros e, mais especialmente, permite a liberdade para o desenvolvimento espiritual. Quando ela é o mestre, as pessoas tornam-se intolerantes e puras máquinas éticas convencionais."

"No momento em que compreende, absoluta e finalmente, que a vida não pode ser captada, ele a solta, percebendo num átimo de segundo que tolo ele tem sido ao tentar retê-la como se fosse sua. Assim, nesse momento, ele alcança a liberdade do espírito, pois compreende o sofrimento inerente à tentativa humana de guardar o vento numa caixa, de manter viva a vida sem deixar que ela viva."

Fragmento trazido pelo vento

"Universidades ocidentais não ensinam métodos para amadurecer emocionalmente, cultivarmos estados mentais que nos fazem bem, controlar a mente e desenvolver paciência ou mesmo focar em um único objetivo ou numa atividade específica algo extremamente útil tanto na área profissional quanto na vida pessoal. Em geral, não há sequer aulas introdutórias sobre esses temas. E, obviamente, perdemos muito com isso. Na verdade, estamos acostumados com a bagunça mental que compõe a vida cotidiana, caracterizada por excesso de informações, saltos entre imagens e fragmentos de discurso ou da memória. A concentração em uma linha de pensamento requer esforço deliberado e consciente, é trabalhoso e geralmente tentamos nos esquivar dessa atividade. Preferimos nos distrair com estímulos externos conversas, jogos, redes sociais e televisão, nos apoiando em recursos eletrônicos na tentativa desesperada de evitar realmente pensar e entrar em contato conosco." (O cérebro de Buda, Revista Mente e Cérebro Outubro, 2013)

"MeC: Apesar da crescente quantidade de estímulos externos, (como TV e internet), as pessoas estão cada vez mais entediadas. Parece que estamos perdendo a capacidade de encontrar estímulos internos. Por quê?
Zigmunt Bauman: Ao longo de várias décadas, e particularmente nos últimos 30 anos da orgia consumista, temos sidos treinados e forçados a buscar o sentido da vida no entretenimento e prazer. Fomos condicionados a ser intolerantes a todo desconforto e inconveniência em qualquer área da vida ou tarefa que exija determinação, força de vontade, esforço árduo e prontidão para a privação pessoal." (Entrevista Zigmunt Bauman, Revista Mente e Cérebro Outubro, 2013)

Um pressentimento funesto - Agatha Christie

"Ele quase não pintava gente, sabe? Às vezes surge uma ou outra figura nas paisagens, mas é muito raro. De certo modo, acho que lhes dá um encanto especial. Uma espécie de sensação de isolamento. Era como se ele removesse todos os seres humanos e a paz dos campos ficasse muito melhor sem eles. Pensando bem, talvez seja por isso que o gosto do público se inclinasse de novo por ele. Hoje em dia há gente demais, carros, barulho nas ruas, um excesso de ruídos e agitação. Paz. Uma paz inalterável. Tudo entregue à natureza."

"– É uma hipótese muito fantasiosa.
– Oh, sim... concordo. Mas na época em que vivemos é exatamente assim... Acontecem coisas incríveis nesse mundo."

"E quanto a pensar, não se trata obrigatoriamente de esforço cerebral. Não estou estudando matemática e economia, nem somando contas domésticas. Pensar consiste apenas num confortável repouso enquanto o espírito mantém as antenas abertas pra eventualidade de captar algo de interesse ou de importância flutuando no ar."