19 de agosto de 2008

1 ano de fragmentos.

Viagem ao Oriente - Hermann Hesse

"É uma fraqueza natural do homem julgar que o que perdemos possui um valor exagerado e parece menos dispensável do que tudo o que possuímos."

"O desespero é o resultado de cada tentativa ansiosa que fazemos para compreender e justificar a vida. É o resultado das tentativas que fazemos de conduzir nossos atos com virtude, justiça e compreensão, e cumprir suas exigências. As crianças vivem em uma das margens do desespero; os lúcidos, em outra."

Sidarta - Hermann Hesse

“Quem me dera olhar, sorrir, caminhar, manter-me sentado à sua maneira, com esse quê de liberdade, de dignidade, de discrição, de ingenuidade, de franqueza e de mistério! Realmente assim só se pode olhar e caminhar quem estiver penetrado no âmago de sua personalidade. Pois então, também eu me empenhava em penetrar no âmago da minha alma.”

“Nada nesse mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais...”

“Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria.”

Poesia Completa de Alberto Caeiro - Fernando Pessoa

“Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.”

“A recordação é uma traição à Natureza
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar não é ver.”

“Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão –
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que não são
Sentir é estar distraído.”

“Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.”

Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez

“Úrsula se perguntava se não era preferível se deitar logo de uma vez na sepultura e lhe jogarem a terra por cima, e perguntava a Deus, sem medo, se realmente acreditava que as pessoas eram feitas de ferro para suportar tantas penas e mortificações. E perguntando e perguntando ia atiçando sua própria perturbação e sentia desejos irreprimíveis de se soltar e não ter papas na língua como um forasteiro e de se permitir afinal um instante de rebeldia, o instante tantas vezes desejado e tantas vezes adiado, para cortar a resignação pela raiz e cagar de uma vez para tudo e tirar do coração os infinitos montes de palavrões que tivera que engolir durante um século inteiro de conformismo.
– Porra! – gritou.
Amaranta, que começava a colocar a roupa no baú, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
– Onde está? – perguntou alarmada.
– O quê?
– O animal! – esclareceu Amaranta.
Úrsula pôs o dedo no coração.
– Aqui – disse.”

“Fernanda se escandalizava com o fato de ela não entender as relações do catolicismo com a vida, mas unicamente as suas relações com a morte, como se não fosse uma religião mas um prospecto de convencionalismos funerários.”

“Não teria se importado com a chuva, porque afinal de contas toda a sua vida tinha sido como se estivesse chovendo.”

“Que em qualquer lugar em que estivessem se lembrassem sempre de que o passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera.”