"As crianças às vezes conhecem muito bem as pessoas."
"A verdade, Mr. Blake – disse ele – tem o hábito de se revelar por si mesma. Até depois de muitos anos."
"O amor ao drama é muito poderoso na espécie humana."
"– Mas creio que os fatos são de domínio público.
– Sim. Porém não sua interpretação."
"Cada um paga suas dívidas. Como é maravilhoso a gente sentir-se em paz!"
"As pessoas que mais nos prejudicam são aquelas que nos ocultam a realidade."
"A versão aceita de certos fatos não é necessariamente a verdadeira."
"É com os olhos do espírito que realmente vemos."
O último adeus de Sherlock Holmes - Arthur Conan Doyle
“É um grave erro alimentar idéias preconcebidas, pois, insensivelmente, a pessoa procura torcer os fatos a fim de adaptá-los às próprias teorias.”
“– Qual é o significado de tudo isso, Watson? – proferiu Holmes, em tom solene, ao terminar a leitura. – Que propósito anima este círculo de desgraças, violências e terror? Deve tender a um fim. De outro modo, nosso universo seria governado pelo acaso, o que é inadmissível. Mas qual será esse fim? Eis o imenso, imutável e eterno problema para o qual a mente humana se encontra mais longe do que nunca de dar solução.”
"Uma das características mais notáveis de Sherlock Holmes era a capacidade de afastar as preocupações de sua frente fixando-se em coisas de menor importância, quando se convencia não lhe ser possível continuar a trabalhar com proveito."
"É estranho como o cérebro controla o cérebro."
“– Qual é o significado de tudo isso, Watson? – proferiu Holmes, em tom solene, ao terminar a leitura. – Que propósito anima este círculo de desgraças, violências e terror? Deve tender a um fim. De outro modo, nosso universo seria governado pelo acaso, o que é inadmissível. Mas qual será esse fim? Eis o imenso, imutável e eterno problema para o qual a mente humana se encontra mais longe do que nunca de dar solução.”
"Uma das características mais notáveis de Sherlock Holmes era a capacidade de afastar as preocupações de sua frente fixando-se em coisas de menor importância, quando se convencia não lhe ser possível continuar a trabalhar com proveito."
"É estranho como o cérebro controla o cérebro."
A extravagância do morto - Agatha Christie
"Quando se sabe o que se está procurando, fica bem fácil, Hercule Poirot disse a si mesmo. Mas ninguém sabe o que procurar. De modo que se procura no lugar errado pelas coisas erradas."
O Diário de um Mago - Paulo Coelho
"– Você acha que Deus existe e eu também acho – havia falado Petrus. – Então, Deus existe para nós. Mas se alguém não crê nele, ele não deixa de existir, mas nem por isso a pessoa que não crê está errada."
"Onde você desejar ver a face de Deus, você a verá. E se não quiser vê-la, isto não faz a mínima diferença, desde que sua obra seja boa."
"Muitas vezes, quando tentamos mostrar o bem, mostrar que a vida é generosa, elas rejeitam a ideia como se fosse coisa do demônio. Ninguém gosta de pedir muito da vida, porque tem medo da derrota."
"Qual o medo de levar um 'não', de deixar uma coisa para fazer depois, se o mais importante de tudo era gozar plenamente a vida?"
"Estava com toda a minha energia voltada para a recompensa, sem entender que quando alguém deseja algo, tem que ter uma finalidade muito clara para aquilo que quer."
"Fizeste-me ver que a busca da felicidade é pessoal, e não um modelo que possamos dar para os outros."
"Onde você desejar ver a face de Deus, você a verá. E se não quiser vê-la, isto não faz a mínima diferença, desde que sua obra seja boa."
"Muitas vezes, quando tentamos mostrar o bem, mostrar que a vida é generosa, elas rejeitam a ideia como se fosse coisa do demônio. Ninguém gosta de pedir muito da vida, porque tem medo da derrota."
"Qual o medo de levar um 'não', de deixar uma coisa para fazer depois, se o mais importante de tudo era gozar plenamente a vida?"
"Estava com toda a minha energia voltada para a recompensa, sem entender que quando alguém deseja algo, tem que ter uma finalidade muito clara para aquilo que quer."
"Fizeste-me ver que a busca da felicidade é pessoal, e não um modelo que possamos dar para os outros."
Fugindo do Ninho - Richard Bach
“Há muito tempo minha verdade vem sendo refinada.”
“Para mim, religiões sistematizadas eram pontes oscilantes, pedaços de pau mal ajambrados que cederiam à primeira pressão, uma questão infantil revolvendo o mistério impossível: porque as religiões pendem para questões irrespondíveis? Não se sabe que o irrespondível não é resposta? Seguidamente, deparava-me com uma nova teologia e sempre me via diante do impasse: devo agarrar essa crença e fazer dela minha vida? Cada vez que esse impasse se impunha, colocava meu peso sobre a ponte, as tábuas tremiam e rangiam; então, todas de uma só vez, caíam diante de mim, como que espanadas, rolando abaixo, escapando de vista. Nesse ponto, agarrava-me ao mundo, agachando-me de volta à beirada abaixo da qual estava o abismo, grato por não sucumbir à queda. Que sabor teria entregar o coração a uma religião que garantia que o planeta se dissolveria em fogo quando chegasse o 31 de dezembro, e então acordar no Ano-Novo entregue ao canto dos pássaros? Constrangimento, este o sabor que teria.”
“Se quebrar alguns recordes físicos me traz tanto prazer, (...) se busco sempre a superação física, o que haveria de errado em fazer o mesmo em relação ao espirito?”
“– Gosto dos presentes.
– Desista dos aniversários, você pode se dar seus próprios presentes a cada dia do ano.”
“Claro que sou demente, Dickie, mas no bom sentido.”
“Quando não se acredita em aniversário, a ideia de envelhecer torna-se um tanto estrangeira. Você não cai em traumas ao fazer dezesseis ou trinta, ou o assustador cinquenta ou o mortificante centenário. Você passa a medir sua vida pelo que aprendeu, não por ficar contando calendários.”
“Na minha opinião, somos criaturas sem idade. O sentimento engraçado de que somos mais jovens ou mais velhos do que nosso corpo é o contraste entre o senso comum... nossa consciência deveria sentir-se tão velha quanto o nosso corpo... e a verdade, que diz que a consciência não tem idade. Nossa mente simplesmente não pode juntar as duas coisas por qualquer regra que seja do tempo-espaço. Então, em vez de tentar outras regras, ela simplesmente deixa de tentar. Sempre que sentimos que não temos a idade correspondente aos nossos números, dizemos ‘estranha sensação!’ e mudamos de assunto.”
“Congelei de medo... tinha de fazer isso, não importa o que achasse correto para mim? Crescer é isto, ter de fazer o que as outras pessoas fazem? Não gosto do que está acontecendo aqui. Como posso sair dessa? Socorro! Como resposta, houve uma explosão no fundo da minha mente, portas arrancadas dos gonzos, uma força lívida arrebentando, agitando. Este idiota está querendo lhe dizer o que você deve ou não fazer? Que história é essa de ‘você tem que fazer’? Você não tem que fazer nada que não queira. Quem é este palhaço para mandar você fazer o que ele quer? Bati com o copo na mesa, a cerveja saltando da borda.
– Eu não tenho que beber nada, Mike! Ninguém me diz o que fazer!”
“Uma droga para tudo é maluquice. Legal ou não, prescrita ou não, passada por cima ou por baixo do balcão, comprada para uso nas esquinas das ruas – cada pílula nos separa do conhecimento de nossa própria compleição e nos distancia do aprendizado da verdade. É melhor nos tratarmos sem recorrer a nenhuma droga, seja qual for a droga e a situação. É criminoso, imaginei, para mim, apoiar uma multidão que trata o corpo como uma máquina em vez de notar as manifestações psicológicas, que fracassam em ver além da primeira tela das aparências.”
“– Voar ainda é uma fantasia para muitos de nós – expliquei. – Quantas fantasias incluem doença? Viva bastante aquilo que você sempre sonhou em fazer e não sobra espaço para as doenças.
“Tudo o que aprendi, Dickie, daquele momento em diante, comprovou o poder do indivíduo para mudar seu destino, o poder de escolha de cada um. (...) nunca espere alguém para mostrar-lhe o caminho ou fazê-lo feliz.”
“– É o preço a pagar – avisou o padre. – Invente a sua teologia e você será diferente de todos os outros.
– Isso não é preço, é uma recompensa.”
“– Imagine que existe um Deus Todo-Poderoso que observe os mortais e seus problemas na Terra.
Ele concordou.
– Então, Deus deve ser responsável por todas as catástrofes, tragédias, terror e morte que flagelam a humanidade.
Dickie ergueu a mão:
– Ele não é responsável só porque vê nossos problemas.
– Pense bem. Porque Ele é Todo-Poderoso. Quer dizer, Ele tem o poder de impedir as coisas ruins, se Ele quiser. Mas Ele escolhe não impedir. Ele é a causa do mal, por permitir que ele exista.
Ele avaliou o raciocínio.
– Talvez... – disse hexitante.
– Por definição, porque os inocentes continuam a sofrer e morrer, um Deus que tudo pode não só é indiferente como infinitamente cruel.
Dickie levantou a mão novamente, mais pedindo tempo para pensar do que para fazer uma pergunta.
– Talvez...
– Você não tem certeza – eu disse.
– Parece estranho, mas não consigo ver o que está errado.
– Eu também não. Essa ideia está mudando o mundo para você, do mesmo modo que mudou para mim... um Deus mau e cruel?
– Continue – ele pediu.
– Seguinte: imagine um Deus Todo-Poderoso que olhe os mortais e conheça seus problemas na Terra.
– Assim é melhor.
Concordei.
– Então esse Deus deve ver com tristeza os inocentes sendo oprimidos e mortos pela maldade, vezes sem fim; assassinados aos milhões enquanto imploram em vão aos céus por socorro, através dos séculos.
Ele ergueu o braço.
– Agora você vai dizer: os inocentes sofrem e morrem, então o nosso Deus de bondade não tem poder para nos ajudar.
– Exatamente! Diga quando estiver pronto para uma pergunta.
Durante um momento, ele pensou sobre o que eu tinha dito. Então cedeu:
– Ok, estou pronto.
– Qual é o Deus real, Dickie? O cruel ou o impotente?”
“Qualquer um pode matar a minha aparência. Ninguém pode tirar a minha vida.”
“O meu corpo não é mais o eu real do que um número no papel é o número real.
"– Você é mestre de sua vida? – perguntou ele.
– Claro que sou! Eu, você e todos os outros. Mas nos esquecemos disso.
– Como eles fazem isso?
– Como quem faz o quê?
– Como os mestres mudam sua vida quando querem?
Sorri a esta pergunta.
– Com armas poderosas.
– O quê?
– Outra diferença entre mestres e vítimas é que as vítimas não descobriram as armas poderosas e os mestres as usam o tempo todo.
– Furadeiras elétricas? Serras circulares? – Ele parecia um náufrago em busca de socorro. Um bom professor o teria deixado descobrir a resposta sozinho, mas eu falo demais para um professor.
– Nada disso. 'Escolha'. A lâmina encantada com um fio que modela as existências. Se ainda assim temos medo de escolher outra coisa que não o que já temos, o que adianta escolher?”
"Afastar-se da segurança não quer dizer correr riscos inúteis.”
“Lembre-se de que este mundo não é a realidade. É o playground das aparências, no qual praticamos a arte de superar o Parece Ser com o nosso conhecimento do É. O Princípio das Coincidências é uma ferramenta poderosa que promete, nesse playground, transportar-nos através do muro.”
“Os semelhantes se atraem. Isso vai surpreendê-lo enquanto viver. Escolha um amor e trabalhe para que ele seja verdadeiro, e de algum modo vai acontecer, algo imprevisto vai juntar os semelhantes, vai libertá-lo e colocá-lo no caminho de seu próximo muro.”
“Chamamos este mundo de Terra, mas o nome verdadeiro é Mudança.”
“– O mundo não é uma esfera, Dickie, é uma enorme pirâmide flutuante. Na sua base está a mais baixa forma de vida que se possa imaginar, odiosa, cheia de vícios e praticando o mal por puro prazer, destituída de compaixão, um pouco acima da consciência, tão selvagem que se autodestrói assim que nasce. Existe espaço para este tipo de consciência, muito espaço, bem aqui no nosso terceiro planeta triangular.
– O que está no topo da pirâmide?
– Uma consciência tão refinada que quase só reconhece a luz. Seres que vivem apenas para seus amores, para os mais altos princípios...”
“– Paz é melhor que guerra.
– Aqueles no topo da pirâmide concordariam. A paz os faria mais felizes.
– E os da base?
– ...amam a batalha! Há sempre uma razão para lutar. Com sorte, é uma causa quente: esta guerra nós fazemos por Deus, esta é para salvar nossa pátria, esta outra para limpar a Raça, para expandir o Império, para obter lata e tungstênio. Lutamos porque paga-se bem, porque é mais excitante matar do que construir vidas, porque guerra evita trabalhar para viver, porque todos estão lutando, porque vai provar que sou um homem, porque gosto de matar.
– Terrível.
– Não é terrível, é previsível. Quando um planeta abriga um espectro tão amplo de mentalidades, espera-se um monte de conflitos.”
“Se eu puder lhe dizer uma única coisa sobre a vida, eu diria: nunca esqueça que é um jogo.”
“Nossa sorte é não termos recordação de outras vidas, pensei. Imobilizados pela memória, não poderíamos prosseguir com esta.”
“A mais leve sugestão de mudança é uma ameaça de morte a alguns status quo.”
"Evite problemas e você nunca será um dos que superam."
“Para mim, religiões sistematizadas eram pontes oscilantes, pedaços de pau mal ajambrados que cederiam à primeira pressão, uma questão infantil revolvendo o mistério impossível: porque as religiões pendem para questões irrespondíveis? Não se sabe que o irrespondível não é resposta? Seguidamente, deparava-me com uma nova teologia e sempre me via diante do impasse: devo agarrar essa crença e fazer dela minha vida? Cada vez que esse impasse se impunha, colocava meu peso sobre a ponte, as tábuas tremiam e rangiam; então, todas de uma só vez, caíam diante de mim, como que espanadas, rolando abaixo, escapando de vista. Nesse ponto, agarrava-me ao mundo, agachando-me de volta à beirada abaixo da qual estava o abismo, grato por não sucumbir à queda. Que sabor teria entregar o coração a uma religião que garantia que o planeta se dissolveria em fogo quando chegasse o 31 de dezembro, e então acordar no Ano-Novo entregue ao canto dos pássaros? Constrangimento, este o sabor que teria.”
“Se quebrar alguns recordes físicos me traz tanto prazer, (...) se busco sempre a superação física, o que haveria de errado em fazer o mesmo em relação ao espirito?”
“– Gosto dos presentes.
– Desista dos aniversários, você pode se dar seus próprios presentes a cada dia do ano.”
“Claro que sou demente, Dickie, mas no bom sentido.”
“Quando não se acredita em aniversário, a ideia de envelhecer torna-se um tanto estrangeira. Você não cai em traumas ao fazer dezesseis ou trinta, ou o assustador cinquenta ou o mortificante centenário. Você passa a medir sua vida pelo que aprendeu, não por ficar contando calendários.”
“Na minha opinião, somos criaturas sem idade. O sentimento engraçado de que somos mais jovens ou mais velhos do que nosso corpo é o contraste entre o senso comum... nossa consciência deveria sentir-se tão velha quanto o nosso corpo... e a verdade, que diz que a consciência não tem idade. Nossa mente simplesmente não pode juntar as duas coisas por qualquer regra que seja do tempo-espaço. Então, em vez de tentar outras regras, ela simplesmente deixa de tentar. Sempre que sentimos que não temos a idade correspondente aos nossos números, dizemos ‘estranha sensação!’ e mudamos de assunto.”
“Congelei de medo... tinha de fazer isso, não importa o que achasse correto para mim? Crescer é isto, ter de fazer o que as outras pessoas fazem? Não gosto do que está acontecendo aqui. Como posso sair dessa? Socorro! Como resposta, houve uma explosão no fundo da minha mente, portas arrancadas dos gonzos, uma força lívida arrebentando, agitando. Este idiota está querendo lhe dizer o que você deve ou não fazer? Que história é essa de ‘você tem que fazer’? Você não tem que fazer nada que não queira. Quem é este palhaço para mandar você fazer o que ele quer? Bati com o copo na mesa, a cerveja saltando da borda.
– Eu não tenho que beber nada, Mike! Ninguém me diz o que fazer!”
“Uma droga para tudo é maluquice. Legal ou não, prescrita ou não, passada por cima ou por baixo do balcão, comprada para uso nas esquinas das ruas – cada pílula nos separa do conhecimento de nossa própria compleição e nos distancia do aprendizado da verdade. É melhor nos tratarmos sem recorrer a nenhuma droga, seja qual for a droga e a situação. É criminoso, imaginei, para mim, apoiar uma multidão que trata o corpo como uma máquina em vez de notar as manifestações psicológicas, que fracassam em ver além da primeira tela das aparências.”
“– Voar ainda é uma fantasia para muitos de nós – expliquei. – Quantas fantasias incluem doença? Viva bastante aquilo que você sempre sonhou em fazer e não sobra espaço para as doenças.
“Tudo o que aprendi, Dickie, daquele momento em diante, comprovou o poder do indivíduo para mudar seu destino, o poder de escolha de cada um. (...) nunca espere alguém para mostrar-lhe o caminho ou fazê-lo feliz.”
“– É o preço a pagar – avisou o padre. – Invente a sua teologia e você será diferente de todos os outros.
– Isso não é preço, é uma recompensa.”
“– Imagine que existe um Deus Todo-Poderoso que observe os mortais e seus problemas na Terra.
Ele concordou.
– Então, Deus deve ser responsável por todas as catástrofes, tragédias, terror e morte que flagelam a humanidade.
Dickie ergueu a mão:
– Ele não é responsável só porque vê nossos problemas.
– Pense bem. Porque Ele é Todo-Poderoso. Quer dizer, Ele tem o poder de impedir as coisas ruins, se Ele quiser. Mas Ele escolhe não impedir. Ele é a causa do mal, por permitir que ele exista.
Ele avaliou o raciocínio.
– Talvez... – disse hexitante.
– Por definição, porque os inocentes continuam a sofrer e morrer, um Deus que tudo pode não só é indiferente como infinitamente cruel.
Dickie levantou a mão novamente, mais pedindo tempo para pensar do que para fazer uma pergunta.
– Talvez...
– Você não tem certeza – eu disse.
– Parece estranho, mas não consigo ver o que está errado.
– Eu também não. Essa ideia está mudando o mundo para você, do mesmo modo que mudou para mim... um Deus mau e cruel?
– Continue – ele pediu.
– Seguinte: imagine um Deus Todo-Poderoso que olhe os mortais e conheça seus problemas na Terra.
– Assim é melhor.
Concordei.
– Então esse Deus deve ver com tristeza os inocentes sendo oprimidos e mortos pela maldade, vezes sem fim; assassinados aos milhões enquanto imploram em vão aos céus por socorro, através dos séculos.
Ele ergueu o braço.
– Agora você vai dizer: os inocentes sofrem e morrem, então o nosso Deus de bondade não tem poder para nos ajudar.
– Exatamente! Diga quando estiver pronto para uma pergunta.
Durante um momento, ele pensou sobre o que eu tinha dito. Então cedeu:
– Ok, estou pronto.
– Qual é o Deus real, Dickie? O cruel ou o impotente?”
“Qualquer um pode matar a minha aparência. Ninguém pode tirar a minha vida.”
“O meu corpo não é mais o eu real do que um número no papel é o número real.
"– Você é mestre de sua vida? – perguntou ele.
– Claro que sou! Eu, você e todos os outros. Mas nos esquecemos disso.
– Como eles fazem isso?
– Como quem faz o quê?
– Como os mestres mudam sua vida quando querem?
Sorri a esta pergunta.
– Com armas poderosas.
– O quê?
– Outra diferença entre mestres e vítimas é que as vítimas não descobriram as armas poderosas e os mestres as usam o tempo todo.
– Furadeiras elétricas? Serras circulares? – Ele parecia um náufrago em busca de socorro. Um bom professor o teria deixado descobrir a resposta sozinho, mas eu falo demais para um professor.
– Nada disso. 'Escolha'. A lâmina encantada com um fio que modela as existências. Se ainda assim temos medo de escolher outra coisa que não o que já temos, o que adianta escolher?”
"Afastar-se da segurança não quer dizer correr riscos inúteis.”
“Lembre-se de que este mundo não é a realidade. É o playground das aparências, no qual praticamos a arte de superar o Parece Ser com o nosso conhecimento do É. O Princípio das Coincidências é uma ferramenta poderosa que promete, nesse playground, transportar-nos através do muro.”
“Os semelhantes se atraem. Isso vai surpreendê-lo enquanto viver. Escolha um amor e trabalhe para que ele seja verdadeiro, e de algum modo vai acontecer, algo imprevisto vai juntar os semelhantes, vai libertá-lo e colocá-lo no caminho de seu próximo muro.”
“Chamamos este mundo de Terra, mas o nome verdadeiro é Mudança.”
“– O mundo não é uma esfera, Dickie, é uma enorme pirâmide flutuante. Na sua base está a mais baixa forma de vida que se possa imaginar, odiosa, cheia de vícios e praticando o mal por puro prazer, destituída de compaixão, um pouco acima da consciência, tão selvagem que se autodestrói assim que nasce. Existe espaço para este tipo de consciência, muito espaço, bem aqui no nosso terceiro planeta triangular.
– O que está no topo da pirâmide?
– Uma consciência tão refinada que quase só reconhece a luz. Seres que vivem apenas para seus amores, para os mais altos princípios...”
“– Paz é melhor que guerra.
– Aqueles no topo da pirâmide concordariam. A paz os faria mais felizes.
– E os da base?
– ...amam a batalha! Há sempre uma razão para lutar. Com sorte, é uma causa quente: esta guerra nós fazemos por Deus, esta é para salvar nossa pátria, esta outra para limpar a Raça, para expandir o Império, para obter lata e tungstênio. Lutamos porque paga-se bem, porque é mais excitante matar do que construir vidas, porque guerra evita trabalhar para viver, porque todos estão lutando, porque vai provar que sou um homem, porque gosto de matar.
– Terrível.
– Não é terrível, é previsível. Quando um planeta abriga um espectro tão amplo de mentalidades, espera-se um monte de conflitos.”
“Se eu puder lhe dizer uma única coisa sobre a vida, eu diria: nunca esqueça que é um jogo.”
“Nossa sorte é não termos recordação de outras vidas, pensei. Imobilizados pela memória, não poderíamos prosseguir com esta.”
“A mais leve sugestão de mudança é uma ameaça de morte a alguns status quo.”
"Evite problemas e você nunca será um dos que superam."
Preconceito Linguístico - Marcos Bagno
“Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo... Também a gramática não é a língua.”
“O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada em sala de aula é, em muitas situações, uma verdadeira ‘língua estrangeira’ para o aluno que chega à escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano é uma variedade de português não padrão.”
“Como o nosso ensino da língua sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. Por isso achamos que ‘português é uma língua difícil’: porque temos de decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós.”
“Se existisse língua ‘difícil’, ninguém no mundo falaria húngaro, chinês ou guarani, e no entanto essas línguas são faladas por milhões de pessoas, inclusive criancinhas analfabetas!”
“O professor pode mandar o aluno copiar quinhentas mil vezes a frase: ‘Assisti ao filme’. Quando esse mesmo aluno puser o pé fora da sala de aula, ele vai dizer ao colega: ‘Ainda não assisti o filme do Zorro!’ Porque a gramática brasileira não sente a necessidade daquela preposição a, que era exigida na norma clássica literária, cem anos atrás, e que ainda está em vigor no português falado em Portugal, a dez mil quilômetros daqui! É um esforço árduo e inútil, um verdadeiro trabalho de Sísifo, tentar impor uma regra que não encontra justificativa na gramática intuitiva do falante.”
“Por isso tantas pessoas terminam seus estudos, depois de onze anos de ensino fundamental e médio, sentindo-se incompetentes para redigir o que quer que seja. E não é à toa: se durante todos esses anos os professores tivessem chamado a atenção dos alunos para o que é realmente interessante e importante, se tivessem desenvolvido as habilidades de expressão dos alunos, em vez de entupir suas aulas com regras ilógicas e nomenclaturas incoerentes, as pessoas sentiriam muito mais confiança e prazer no momento de usar os recursos de seu idioma...”
“Se tantas pessoas inteligentes e cultas continuam achando que ‘não sabem português’ ou que ‘português é muito difícil’ é porque esta disciplina fascinante foi transformada numa ‘ciência esotérica’, numa ‘doutrina cabalística’ que somente alguns ‘iluminados’ (os gramáticos tradicionalistas!) conseguem dominar completamente.”
“No fundo, a ideia de que ‘português é muito difícil’ serve como mais um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas. Essa entidade mística e sobrenatural chamada ‘português’ só se revela aos poucos ‘iniciados’, aos que sabem as palavras mágicas exatas para fazê-la manifestar-se.”
“Não é a ‘língua’ que tem armadilhas, mas sim a gramática normativa tradicional, que as inventa precisamente para justificar sua existência e para nos convencer de que ela é indispensável.”
“Infelizmente, existe uma tendência (mais um preconceito!) muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar ‘do jeito que se escreve’, como se essa fosse a única maneira ‘certa’ de falar português. (...) É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada ‘artificial’ e reprovando como ‘erradas’ as pronúncias que são resultado natural das forças internas que governam o idioma.”
“Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo.”
“Um professor de português quer formar bons usuários da língua escrita e falada, e não prováveis candidatos ao Prêmio Nobel de literatura!”
“Mas os preconceitos, como bem sabemos, impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes preconceituosas se tornam parte integrante do nosso próprio modo de ser e de estar no mundo. É necessário um trabalho lento, contínuo e profundo de conscientização para que se comece a desmascarar os mecanismos perversos que compõem a mitologia do preconceito. E o tipo mais trágico de preconceito não é aquele que é exercido por uma pessoa em relação a outra, mas o preconceito que uma pessoa exerce contra si mesma. Infelizmente, ainda existem muitas mulheres que se consideram ‘inferiores’ aos homens; existem negros que acreditam que seu lugar é mesmo de subserviência em relação aos brancos; existem homossexuais convictos de que sofrem de uma ‘doença’ que pode, inclusive, ser curada...”
“O problema certamente está no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado sob o rótulo de língua portuguesa.”
“A Gramática Tradicional permanece viva e forte porque, ao longo da história, ela deixou de ser apenas uma tentativa de explicação filosófica para os fenômenos da linguagem humana e foi transformada em mais um dos muitos elementos de dominação de uma parcela da sociedade sobre as demais. Assim como, no curso do tempo, tem se falado da Família, da Pátria, da Lei, da Fé etc. como entidades sacrossantas, como valores perenes e imutáveis, também a ‘Língua’ foi elevada a essa categoria abstrata, devendo, portanto, ser ‘preservada’ em sua ‘pureza’, ‘defendida’ dos ataques dos ‘barbarismos’, ‘conservada’ como um ‘patrimônio’ que não pode sofrer ‘ruína’ e ‘corrupção’.”
“O novo assusta, o novo subverte as certezas, compromete as estruturas de poder e dominação há muito vigentes.”
“É a mesma ira que leva os fundamentalistas (pseudo)cristãos a querer impedir o ensino da teoria evolucionista de Darwin em escolas norte-americanas. Assim como esses fundamentalistas, para defender seu ponto de vista obscurantista, acusam Darwin de afirmar que ‘o homem descende do macaco’ (coisa que ele jamais escreveu em nenhuma de suas obras: sua teoria é a de que os humanos e os demais primatas descendem de um ancestral comum).”
“O grande problema está na confusão que reina na mentalidade das pessoas que atribuem uma ‘crise’ à língua, quando, de fato, a crise existe é na escola, é no sistema educacional brasileiro, classificado entre os piores do mundo...”
“O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada em sala de aula é, em muitas situações, uma verdadeira ‘língua estrangeira’ para o aluno que chega à escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano é uma variedade de português não padrão.”
“Como o nosso ensino da língua sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. Por isso achamos que ‘português é uma língua difícil’: porque temos de decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós.”
“Se existisse língua ‘difícil’, ninguém no mundo falaria húngaro, chinês ou guarani, e no entanto essas línguas são faladas por milhões de pessoas, inclusive criancinhas analfabetas!”
“O professor pode mandar o aluno copiar quinhentas mil vezes a frase: ‘Assisti ao filme’. Quando esse mesmo aluno puser o pé fora da sala de aula, ele vai dizer ao colega: ‘Ainda não assisti o filme do Zorro!’ Porque a gramática brasileira não sente a necessidade daquela preposição a, que era exigida na norma clássica literária, cem anos atrás, e que ainda está em vigor no português falado em Portugal, a dez mil quilômetros daqui! É um esforço árduo e inútil, um verdadeiro trabalho de Sísifo, tentar impor uma regra que não encontra justificativa na gramática intuitiva do falante.”
“Por isso tantas pessoas terminam seus estudos, depois de onze anos de ensino fundamental e médio, sentindo-se incompetentes para redigir o que quer que seja. E não é à toa: se durante todos esses anos os professores tivessem chamado a atenção dos alunos para o que é realmente interessante e importante, se tivessem desenvolvido as habilidades de expressão dos alunos, em vez de entupir suas aulas com regras ilógicas e nomenclaturas incoerentes, as pessoas sentiriam muito mais confiança e prazer no momento de usar os recursos de seu idioma...”
“Se tantas pessoas inteligentes e cultas continuam achando que ‘não sabem português’ ou que ‘português é muito difícil’ é porque esta disciplina fascinante foi transformada numa ‘ciência esotérica’, numa ‘doutrina cabalística’ que somente alguns ‘iluminados’ (os gramáticos tradicionalistas!) conseguem dominar completamente.”
“No fundo, a ideia de que ‘português é muito difícil’ serve como mais um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas. Essa entidade mística e sobrenatural chamada ‘português’ só se revela aos poucos ‘iniciados’, aos que sabem as palavras mágicas exatas para fazê-la manifestar-se.”
“Não é a ‘língua’ que tem armadilhas, mas sim a gramática normativa tradicional, que as inventa precisamente para justificar sua existência e para nos convencer de que ela é indispensável.”
“Infelizmente, existe uma tendência (mais um preconceito!) muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar ‘do jeito que se escreve’, como se essa fosse a única maneira ‘certa’ de falar português. (...) É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada ‘artificial’ e reprovando como ‘erradas’ as pronúncias que são resultado natural das forças internas que governam o idioma.”
“Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo.”
“Um professor de português quer formar bons usuários da língua escrita e falada, e não prováveis candidatos ao Prêmio Nobel de literatura!”
“Mas os preconceitos, como bem sabemos, impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes preconceituosas se tornam parte integrante do nosso próprio modo de ser e de estar no mundo. É necessário um trabalho lento, contínuo e profundo de conscientização para que se comece a desmascarar os mecanismos perversos que compõem a mitologia do preconceito. E o tipo mais trágico de preconceito não é aquele que é exercido por uma pessoa em relação a outra, mas o preconceito que uma pessoa exerce contra si mesma. Infelizmente, ainda existem muitas mulheres que se consideram ‘inferiores’ aos homens; existem negros que acreditam que seu lugar é mesmo de subserviência em relação aos brancos; existem homossexuais convictos de que sofrem de uma ‘doença’ que pode, inclusive, ser curada...”
“O problema certamente está no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado sob o rótulo de língua portuguesa.”
“A Gramática Tradicional permanece viva e forte porque, ao longo da história, ela deixou de ser apenas uma tentativa de explicação filosófica para os fenômenos da linguagem humana e foi transformada em mais um dos muitos elementos de dominação de uma parcela da sociedade sobre as demais. Assim como, no curso do tempo, tem se falado da Família, da Pátria, da Lei, da Fé etc. como entidades sacrossantas, como valores perenes e imutáveis, também a ‘Língua’ foi elevada a essa categoria abstrata, devendo, portanto, ser ‘preservada’ em sua ‘pureza’, ‘defendida’ dos ataques dos ‘barbarismos’, ‘conservada’ como um ‘patrimônio’ que não pode sofrer ‘ruína’ e ‘corrupção’.”
“O novo assusta, o novo subverte as certezas, compromete as estruturas de poder e dominação há muito vigentes.”
“É a mesma ira que leva os fundamentalistas (pseudo)cristãos a querer impedir o ensino da teoria evolucionista de Darwin em escolas norte-americanas. Assim como esses fundamentalistas, para defender seu ponto de vista obscurantista, acusam Darwin de afirmar que ‘o homem descende do macaco’ (coisa que ele jamais escreveu em nenhuma de suas obras: sua teoria é a de que os humanos e os demais primatas descendem de um ancestral comum).”
“O grande problema está na confusão que reina na mentalidade das pessoas que atribuem uma ‘crise’ à língua, quando, de fato, a crise existe é na escola, é no sistema educacional brasileiro, classificado entre os piores do mundo...”
Em que creem os que não creem - Umberto Eco; Carlo Maria Martini
“Quando qualquer autoridade religiosa de qualquer confissão se
pronuncia sobre problemas concernentes a princípios da ética natural, os
leigos devem reconhecer-lhe este direito: podem concordar, ou não
concordar com sua posição, mas não têm nenhuma razão para contestar-lhe o
direito de expressá-la, mesmo como crítica ao modo de viver do
não-crente. Os leigos têm razão para reagir apenas em um caso: quando
uma confissão tende a impor aos não-crentes (ou aos crentes de outra fé)
comportamentos que a lei do Estado ou de suas religiões proíbem, ou a
proibir-lhes outros que a lei do Estado ou de suas religiões, ao
contrário, permitem.”
“Jesus disse que era preciso pagar o tributo a César, pois o ordenamento jurídico do Mediterrâneo apontava nesse sentido, mas isso não significa que um cidadão europeu tenha, hoje, o dever de pagar taxas ao último descendente dos Habsburgo.”
“E não se preocupe se alguns dizem que falamos difícil: eles poderiam ter sido encorajados a pensar fácil demais pela 'revelação' da mídia, previsível por definição. Que aprendam a pensar difícil, pois nem o mistério, nem a evidência, são fáceis.”
“Devemos, antes de tudo, respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e de pensar. Se nossos semelhantes tivessem respeitado esses 'direitos do corpo' não teríamos tido o massacre dos Inocentes, os cristãos no circo, a noite de São Bartolomeu, a fogueira para os hereges, os campos de extermínio, a censura, as crianças nas minas, os estupros na Bósnia.”
“A dimensão ética começa quando entra em cena o outro.”
“Ético é o homem que, de boa-fé, não ama; não-ético é o homem que ama porque, apesar de sua convicção de não amar, quer evitar a desaprovação social.”
"A história da Igreja, junto com os infinitos atos de fé e bondade, é tecida intimamente pela violência dos clérigos e das instituições por eles dirigidas. Sempre se poderia dizer que todas as instituições humanas e os homens que as administram – mesmo os ministros de Deus – são suscetíveis de falhas e seria verdade. Mas o que se pretende discutir aqui é outra e mais importante questão: não existe ligação com o Absoluto que tenha podido impedir a relativização da moral; queimar uma bruxa ou um herege não foi considerado pecado e menos ainda crime durante quase a metade da história milenar do catolicismo; ao contrário, essas crueldades que violavam a essência de uma religião que havia sido fundada no amor, eram realizadas em nome e sob a tutela desta mesma religião e da moral que deveria fazer parte dela intrinsecamente. Repito: não estou desenterrando erros e até crimes que hoje – mas só hoje – a Igreja já admitiu e repudiou; estou simplesmente afirmando que a moral cristã, eminentíssimo cardeal, ligada ao Absoluto que emana do Deus transcendente, efetivamente não impediu uma interpretação relativizante da própria moral. Jesus impediu que a adúltera fosse lapidada e sobre isso edificou uma moral baseada no amor, mas a Igreja fundada por ele, mesmo sem negar esta moral, interpretou-a de uma maneira que levou a verdadeiros massacres e uma cadeia de delitos contra o amor. E isto não apenas em casos esporádicos ou por algum erro trágico de pessoas isoladas, mas com base em uma concepção que guiou o comportamento da Igreja durante um pouco menos de um milênio. Concluo sobre este ponto: não existe ligação com o Absoluto, não importa o que se queira entender por esta palavra, que evite a mutação da moral segundo os tempos, os lugares e os contextos históricos nos quais uma vivência humana se desenvolve."
"Pessoalmente desconfio daquele Absoluto que dita mandamentos heteronômicos e produz instituições incumbidas de administrá-los, sacralizá-los e interpretá-los. (...) Por isso, deixemos de lado as metafísicas e as transcendências se quisermos reconstruir juntos uma moral perdida; reconheçamos juntos o valor moral do bem comum e da caridade no sentido mais alto do termo; pratiquemo-lo profundamente, não para merecer prêmios ou escapar de castigos, mas simplesmente para seguir o instinto que provém da raiz humana comum e do código genético comum que está inscrito no corpo de cada um de nós."
“Jesus disse que era preciso pagar o tributo a César, pois o ordenamento jurídico do Mediterrâneo apontava nesse sentido, mas isso não significa que um cidadão europeu tenha, hoje, o dever de pagar taxas ao último descendente dos Habsburgo.”
“E não se preocupe se alguns dizem que falamos difícil: eles poderiam ter sido encorajados a pensar fácil demais pela 'revelação' da mídia, previsível por definição. Que aprendam a pensar difícil, pois nem o mistério, nem a evidência, são fáceis.”
“Devemos, antes de tudo, respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e de pensar. Se nossos semelhantes tivessem respeitado esses 'direitos do corpo' não teríamos tido o massacre dos Inocentes, os cristãos no circo, a noite de São Bartolomeu, a fogueira para os hereges, os campos de extermínio, a censura, as crianças nas minas, os estupros na Bósnia.”
“A dimensão ética começa quando entra em cena o outro.”
“Ético é o homem que, de boa-fé, não ama; não-ético é o homem que ama porque, apesar de sua convicção de não amar, quer evitar a desaprovação social.”
"A história da Igreja, junto com os infinitos atos de fé e bondade, é tecida intimamente pela violência dos clérigos e das instituições por eles dirigidas. Sempre se poderia dizer que todas as instituições humanas e os homens que as administram – mesmo os ministros de Deus – são suscetíveis de falhas e seria verdade. Mas o que se pretende discutir aqui é outra e mais importante questão: não existe ligação com o Absoluto que tenha podido impedir a relativização da moral; queimar uma bruxa ou um herege não foi considerado pecado e menos ainda crime durante quase a metade da história milenar do catolicismo; ao contrário, essas crueldades que violavam a essência de uma religião que havia sido fundada no amor, eram realizadas em nome e sob a tutela desta mesma religião e da moral que deveria fazer parte dela intrinsecamente. Repito: não estou desenterrando erros e até crimes que hoje – mas só hoje – a Igreja já admitiu e repudiou; estou simplesmente afirmando que a moral cristã, eminentíssimo cardeal, ligada ao Absoluto que emana do Deus transcendente, efetivamente não impediu uma interpretação relativizante da própria moral. Jesus impediu que a adúltera fosse lapidada e sobre isso edificou uma moral baseada no amor, mas a Igreja fundada por ele, mesmo sem negar esta moral, interpretou-a de uma maneira que levou a verdadeiros massacres e uma cadeia de delitos contra o amor. E isto não apenas em casos esporádicos ou por algum erro trágico de pessoas isoladas, mas com base em uma concepção que guiou o comportamento da Igreja durante um pouco menos de um milênio. Concluo sobre este ponto: não existe ligação com o Absoluto, não importa o que se queira entender por esta palavra, que evite a mutação da moral segundo os tempos, os lugares e os contextos históricos nos quais uma vivência humana se desenvolve."
"Pessoalmente desconfio daquele Absoluto que dita mandamentos heteronômicos e produz instituições incumbidas de administrá-los, sacralizá-los e interpretá-los. (...) Por isso, deixemos de lado as metafísicas e as transcendências se quisermos reconstruir juntos uma moral perdida; reconheçamos juntos o valor moral do bem comum e da caridade no sentido mais alto do termo; pratiquemo-lo profundamente, não para merecer prêmios ou escapar de castigos, mas simplesmente para seguir o instinto que provém da raiz humana comum e do código genético comum que está inscrito no corpo de cada um de nós."
“Quem não se recorda do aforismo de Bernard Shaw: ‘Não faça
aos outros aquilo que gostaria que fizessem a ti. Eles poderiam não ter o mesmo
gosto’.”
O Vale do Terror - Arthur Conan Doyle
“A mediocridade não reconhece nada que lhe seja superior, mas o talento reconhece a genialidade instantaneamente.
Olhai os Lírios do Campo - Erico Verissimo
"– Então é porque tenho vivido e aprendi a ver.
– Tens apenas vinte e cinco anos...
– Conheci um homem que tinha sessenta e ainda não tinha aprendido a conhecer-se a si mesmo."
"O vulto da igreja antiga: sempre uma sugestão de Deus, dentro e fora de nossos pensamentos... Por que não se revela Ele dum modo mais definido? Na forma dum milagre, por exemplo..."
"Ele sentia vontade de beijá-la. E por que não a beijava? Olívia podia repeli-lo, ficar magoada... Mas que importava. O mundo ia acabar, os homens se matavam, a vida era cruel. Um dia ambos estariam apodrecendo debaixo da terra."
"– Se Deus existe, então por que não se revelou?
– Porque até Deus precisa de oportunidades."
"– Só foge da solidão quem tem medo dos próprios pensamentos, das próprias lembranças.
– Talvez...
– Mas se tu soubesses como a solidão pode nos enriquecer..."
"O crânio do operário estava todo esfacelado, seu rosto absolutamente irreconhecível. (...)
– Mandem tocar de novo as máquinas – disse o gerente. – Não podemos ficar parados. Tempo é ouro.
Ouro... Por que era que os homens não se esqueciam nunca do ouro? Ouro lhe lembrava outra palavra: sangue. Tempo também era sangue. Ouro se fazia com sangue."
"– E agora?
Ele encolheu os ombros.
– É a pergunta que faço todos os dias a mim mesmo."
"Enfim ali estava uma criatura que se interessava por ele, que o amava de maneira profunda. Que tudo dava e nada pedia..."
"Estive pensando na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles. (...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.
“Nós somos homens, Filipe, e vivemos quase como máquinas. Essa ânsia de progredir, de acumular dinheiro, de construir, faz a gente esquecer o que tem de humano.”
“As perguntas das crianças em geral são as que nos deixam mais atrapalhados.”
“Eugênio ouviu os mexericos sem se perturbar. Limitou-se a sorrir e depois que ficou a sós não pôde deixar de se perguntar a si mesmo como lhe fora possível encarar os fatos duma maneira tão desligada, tão superior e serena? Se lhe tivessem contado aquelas infâmias em outro tempo, ele teria sentido dor física, teria ficado num estado de absoluta prostração, numa angústia que se prolongaria durante dias e dias. Os homens eram perversos – concluiu ele. Mas depois se corrigiu: – Havia homens muito perversos. Não bastariam as misérias reais da vida, aquelas de que ele tinha todos os dias dolorosas amostras na sua clínica? Algumas pessoas acham um prazer depravado em inventar misérias. Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia numa de suas cartas. Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico, e te perguntaste a ti mesmo: ‘Estarei fazendo uma viagem agradável?’. Mas eu te asseguro que o mais decente seria perguntar: ‘Estarei sendo um bom companheiro de viagem?’ Realmente, os homens em geral eram maus companheiro de viagem. Apesar da imensidão e das incertezas do mar, apesar do perigo das tempestades, do raio e da fragilidade do navio, eles ainda se obstinavam em serem inimigos uns dos outros. O sensato seria que se unissem em uma atitude de defesa e que se trocassem gentilezas a fim de que a viagem fosse mais agradável para todos.”
“Pensemos apenas nisto: não fomos consultados para vir para este mundo e não seremos consultados quando tivermos de partir. Isso dá bem a medida da nossa importância material na terra, mas deve ser um elemento de consolo e não de desespero.”
“Mas atentando mais nas pessoas e nos fatos ele chegava à conclusão de que o que via, o que podia apalpar, cheirar e ouvir não era tudo. Havia algo de indefinível para além da matéria.”
“Ele sabia que nunca havia de chegar à Verdade. Quando muito conseguiria vislumbrar pequenas verdades.”
“Os homens viviam demasiadamente preocupados com palavras, pulavam ao redor delas e se esqueciam dos fatos. E os fatos continuavam a bater-lhes na cara.”
“O espírito de gentileza podia salvar o mundo. O que nos falta é isso: espírito de gentileza. Boas maneiras de homem para homem, de povo para povo.”
“Se naquele instante – refletiu Eugênio – caísse na Terra um habitante de Marte, havia de ficar embasbacado ao verificar que num dia tão maravilhosamente belo e macio, de sol tão dourado, os homens em sua maioria estavam metidos em escritórios, oficinas, fábricas... e se perguntasse a qualquer um deles: ‘Homem, porque trabalhas com tanta fúria durante todas as horas de sol?’ – ouviria esta resposta singular: ‘Para ganhar a vida.’ E no entanto a vida ali estava a se oferecer toda, numa gratuidade milagrosa. Os homens viviam tão ofuscados por desejos ambiciosos que nem sequer davam por ela. Nem com todas as conquistas da inteligência tinham descoberto um meio de trabalhar menos e viver mais. Agitavam-se na terra e não se conheciam uns aos outros, não se amavam como deviam. A competição os transformava em inimigos.”
– Tens apenas vinte e cinco anos...
– Conheci um homem que tinha sessenta e ainda não tinha aprendido a conhecer-se a si mesmo."
"O vulto da igreja antiga: sempre uma sugestão de Deus, dentro e fora de nossos pensamentos... Por que não se revela Ele dum modo mais definido? Na forma dum milagre, por exemplo..."
"Ele sentia vontade de beijá-la. E por que não a beijava? Olívia podia repeli-lo, ficar magoada... Mas que importava. O mundo ia acabar, os homens se matavam, a vida era cruel. Um dia ambos estariam apodrecendo debaixo da terra."
"– Se Deus existe, então por que não se revelou?
– Porque até Deus precisa de oportunidades."
"– Só foge da solidão quem tem medo dos próprios pensamentos, das próprias lembranças.
– Talvez...
– Mas se tu soubesses como a solidão pode nos enriquecer..."
"O crânio do operário estava todo esfacelado, seu rosto absolutamente irreconhecível. (...)
– Mandem tocar de novo as máquinas – disse o gerente. – Não podemos ficar parados. Tempo é ouro.
Ouro... Por que era que os homens não se esqueciam nunca do ouro? Ouro lhe lembrava outra palavra: sangue. Tempo também era sangue. Ouro se fazia com sangue."
"– E agora?
Ele encolheu os ombros.
– É a pergunta que faço todos os dias a mim mesmo."
"Enfim ali estava uma criatura que se interessava por ele, que o amava de maneira profunda. Que tudo dava e nada pedia..."
"Estive pensando na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles. (...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.
“Nós somos homens, Filipe, e vivemos quase como máquinas. Essa ânsia de progredir, de acumular dinheiro, de construir, faz a gente esquecer o que tem de humano.”
“As perguntas das crianças em geral são as que nos deixam mais atrapalhados.”
“Eugênio ouviu os mexericos sem se perturbar. Limitou-se a sorrir e depois que ficou a sós não pôde deixar de se perguntar a si mesmo como lhe fora possível encarar os fatos duma maneira tão desligada, tão superior e serena? Se lhe tivessem contado aquelas infâmias em outro tempo, ele teria sentido dor física, teria ficado num estado de absoluta prostração, numa angústia que se prolongaria durante dias e dias. Os homens eram perversos – concluiu ele. Mas depois se corrigiu: – Havia homens muito perversos. Não bastariam as misérias reais da vida, aquelas de que ele tinha todos os dias dolorosas amostras na sua clínica? Algumas pessoas acham um prazer depravado em inventar misérias. Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia numa de suas cartas. Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico, e te perguntaste a ti mesmo: ‘Estarei fazendo uma viagem agradável?’. Mas eu te asseguro que o mais decente seria perguntar: ‘Estarei sendo um bom companheiro de viagem?’ Realmente, os homens em geral eram maus companheiro de viagem. Apesar da imensidão e das incertezas do mar, apesar do perigo das tempestades, do raio e da fragilidade do navio, eles ainda se obstinavam em serem inimigos uns dos outros. O sensato seria que se unissem em uma atitude de defesa e que se trocassem gentilezas a fim de que a viagem fosse mais agradável para todos.”
“Pensemos apenas nisto: não fomos consultados para vir para este mundo e não seremos consultados quando tivermos de partir. Isso dá bem a medida da nossa importância material na terra, mas deve ser um elemento de consolo e não de desespero.”
“Mas atentando mais nas pessoas e nos fatos ele chegava à conclusão de que o que via, o que podia apalpar, cheirar e ouvir não era tudo. Havia algo de indefinível para além da matéria.”
“Ele sabia que nunca havia de chegar à Verdade. Quando muito conseguiria vislumbrar pequenas verdades.”
“Os homens viviam demasiadamente preocupados com palavras, pulavam ao redor delas e se esqueciam dos fatos. E os fatos continuavam a bater-lhes na cara.”
“O espírito de gentileza podia salvar o mundo. O que nos falta é isso: espírito de gentileza. Boas maneiras de homem para homem, de povo para povo.”
“Se naquele instante – refletiu Eugênio – caísse na Terra um habitante de Marte, havia de ficar embasbacado ao verificar que num dia tão maravilhosamente belo e macio, de sol tão dourado, os homens em sua maioria estavam metidos em escritórios, oficinas, fábricas... e se perguntasse a qualquer um deles: ‘Homem, porque trabalhas com tanta fúria durante todas as horas de sol?’ – ouviria esta resposta singular: ‘Para ganhar a vida.’ E no entanto a vida ali estava a se oferecer toda, numa gratuidade milagrosa. Os homens viviam tão ofuscados por desejos ambiciosos que nem sequer davam por ela. Nem com todas as conquistas da inteligência tinham descoberto um meio de trabalhar menos e viver mais. Agitavam-se na terra e não se conheciam uns aos outros, não se amavam como deviam. A competição os transformava em inimigos.”
O Santo Inquérito - Dias Gomes
“Até quando as fogueiras reais ou simplesmente morais (estas não menos cruéis) serão usadas para eliminar aqueles que teimam em fazer uso da liberdade de pensamento?”
“Acho que as boas ações só valem quando não são calculadas. E Deus não deve levar em conta aqueles que praticam o bem só com a intenção de agradar-Lhe. (...) Não foi querendo agradar a Deus que eu me atirei no rio para salvá-lo. Foi porque isso me deixaria satisfeita comigo mesma. Porque era um gesto de amor ao meu semelhante. E é no amor que a gente se encontra com Deus. No amor, no prazer e na alegria de viver.”
“Mas eles não aceitam as coisas lógicas, as coisas simples e naturais. Eles só aceitam o mistério.”
“Não há nada mais próximo do ódio do que o amor dos humildes pelos poderosos, o culto dos oprimidos pelos opressores.”
“Acho que as boas ações só valem quando não são calculadas. E Deus não deve levar em conta aqueles que praticam o bem só com a intenção de agradar-Lhe. (...) Não foi querendo agradar a Deus que eu me atirei no rio para salvá-lo. Foi porque isso me deixaria satisfeita comigo mesma. Porque era um gesto de amor ao meu semelhante. E é no amor que a gente se encontra com Deus. No amor, no prazer e na alegria de viver.”
“Mas eles não aceitam as coisas lógicas, as coisas simples e naturais. Eles só aceitam o mistério.”
“Não há nada mais próximo do ódio do que o amor dos humildes pelos poderosos, o culto dos oprimidos pelos opressores.”
Hannibal - Thomas Harris
"O verme que destrói você é a tentação de concordar com seus críticos, de obter a aprovação deles."
“Para o que você olha enquanto está tomando uma decisão? A nossa cultura não é reflexiva, nós não erguemos os olhos para os morros. Na maior parte das vezes decidimos as coisas críticas olhando para o chão de linóleo de um corredor institucional, ou sussurrando às pressas numa sala de espera com uma televisão alardeando absurdos.”
“Enquanto dobrava o papel grosso, soube que estava agindo diferente do que era, e ficou satisfeita”.
“Para o que você olha enquanto está tomando uma decisão? A nossa cultura não é reflexiva, nós não erguemos os olhos para os morros. Na maior parte das vezes decidimos as coisas críticas olhando para o chão de linóleo de um corredor institucional, ou sussurrando às pressas numa sala de espera com uma televisão alardeando absurdos.”
“Enquanto dobrava o papel grosso, soube que estava agindo diferente do que era, e ficou satisfeita”.
Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach
“E, contudo, não sentia remorso por não cumprir as promessas que
fizera a si próprio. ‘Essas promessas são só para as gaivotas que
aceitam o vulgar. Quem conseguiu chegar à excelência da sua aprendizagem
não tem necessidade desse tipo de promessa.’”
“Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para o outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente. Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando? Mil vidas, Fernão, dez mil! E depois mais cem vidas até começarmos a aprender que há uma coisa chamada perfeição, e ainda outras cem para nos convencermos de que o nosso objetivo na vida é encontrar essa perfeição e levá-la ao extremo.”
“Escolheremos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendermos neste. Não aprender nada significa que o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e pesos de chumbo a vencer.”
“Você tem menos medo de aprender do que qualquer outra gaivota que conheci em dez mil anos.”
“Ao expulsarem-na, as outras gaivotas só fizeram mal a si próprias, e um dia vão sabê-lo, e um dia verão o que você vê.”
“Era-lhes mais fácil praticar altas execuções do que compreender a razão que estava por detrás delas.”
“Temos de pôr de parte tudo o que nos limita.”
“Quebrem as correntes dos seus pensamentos e quebrarão as correntes do corpo.”
“Falou de coisas muito simples – que as gaivotas têm o direito de voar, que a liberdade é própria de sua natureza, que todo aquele que se oponha a essa liberdade deve ser posto de parte, quer a oposição seja motivada por ritual, superstição ou limitação sob qualquer forma.”
“'O preço de ser incompreendido’, pensou. ‘Ser classificado de diabo ou de deus.’”
“– Por que será – interrogou-se Fernão – que a coisa mais difícil do mundo é convencer a um pássaro de que é livre e de que pode prová-lo a si mesmo se se dedicar a treinar um pouco?”
“Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olhe com o entendimento...”
“Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para o outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente. Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando? Mil vidas, Fernão, dez mil! E depois mais cem vidas até começarmos a aprender que há uma coisa chamada perfeição, e ainda outras cem para nos convencermos de que o nosso objetivo na vida é encontrar essa perfeição e levá-la ao extremo.”
“Escolheremos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendermos neste. Não aprender nada significa que o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e pesos de chumbo a vencer.”
“Você tem menos medo de aprender do que qualquer outra gaivota que conheci em dez mil anos.”
“Ao expulsarem-na, as outras gaivotas só fizeram mal a si próprias, e um dia vão sabê-lo, e um dia verão o que você vê.”
“Era-lhes mais fácil praticar altas execuções do que compreender a razão que estava por detrás delas.”
“Temos de pôr de parte tudo o que nos limita.”
“Quebrem as correntes dos seus pensamentos e quebrarão as correntes do corpo.”
“Falou de coisas muito simples – que as gaivotas têm o direito de voar, que a liberdade é própria de sua natureza, que todo aquele que se oponha a essa liberdade deve ser posto de parte, quer a oposição seja motivada por ritual, superstição ou limitação sob qualquer forma.”
“'O preço de ser incompreendido’, pensou. ‘Ser classificado de diabo ou de deus.’”
“– Por que será – interrogou-se Fernão – que a coisa mais difícil do mundo é convencer a um pássaro de que é livre e de que pode prová-lo a si mesmo se se dedicar a treinar um pouco?”
“Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olhe com o entendimento...”
O Ponto de Mutação - Fritjof Capra
“Quando as estruturas sociais e padrões de comportamento tornam-se tão rígidos que a sociedade não pode mais adaptar-se a situações cambiantes, ela é incapaz de levar avante o processo criativo de evolução cultural. Entra em colapso e, finalmente, desintegra-se.”
“A primeira transição, e talvez a mais profunda, deve-se ao lento, relutante, mas inevitável declínio do patriarcado. (...) O que sabemos é que, nestes últimos três mil anos, a civilização ocidental e suas precursoras, assim como a maioria das outras grandes culturas, basearam-se em sistemas filosóficos, sociais e políticos “em que os homens – pela força, pressão direta, ou através do ritual, da tradição, lei e linguagem, costumes, etiqueta, educação e divisão do trabalho – determinam que papel as mulheres devem ou não desempenhar, e no qual a fêmea está em toda parte submetida ao macho.” O poder do patriarcado tem sido extremamente difícil de entender por ser totalmente preponderante. Tem influenciado nossas ideias mais básicas acerca da natureza humana e de nossa relação com o universo – a natureza do “homem” e a relação “dele” com o universo, na linguagem patriarcal. Era o único sistema que, até data recente, nunca tinha sido abertamente desafiado em toda a história documentada, e cujas doutrinas eram tão universalmente aceitas que pareciam constituir leis da natureza; na verdade, eram usualmente apresentadas como tal. Hoje, porém, a desintegração do patriarcado tornou-se evidente. O movimento feminista é uma das mais fortes correntes culturais do nosso tempo, e terá um profundo efeito sobre a nossa futura evolução.”
“Que se permita a todas as coisas fazerem o que elas naturalmente fazem, de modo que sua natureza fique satisfeita.”
“A noção do homem como dominador da natureza e da mulher e a crença no papel superior da mente racional foram apoiadas e encorajadas pela tradição judaico-cristã, que adere à imagem de um deus masculino, personificação da razão suprema e fonte do poder último, que governa o mundo a partir do alto e lhe impõe sua lei divina.”
“O pensamento racional é linear, ao passo que a consciência ecológica decorre de uma intuição de sistemas não-lineares. Umas das coisas mais difíceis de serem entendidas pelas pessoas em nossa cultura é o fato de que se fazemos algo bom, continuar a fazê-lo não será necessariamente melhor.”
“Nosso progresso, portanto, foi uma questão predominantemente racional e intelectual, e essa evolução unilateral atingiu agora um estágio alarmante, uma situação tão paradoxal que beira a insanidade. Podemos controlar os pousos suaves de espaçonaves em planetas distante, mas somos incapazes de controlar a fumaça poluente expelida por nossos automóveis e nossas fábricas.”
“Enquanto o comportamento auto-afirmativo é apresentado como o ideal para os homens, espera-se das mulheres o comportamento submisso, mas também se espera esse comportamento submisso dos empregados e executivos, de quem se exige que neguem suas identidades individuais e adotem a identidade e os padrões de comportamento do grupo. Situação semelhante existe em nossos sistema educacional, no qual a auto-afirmação é recompensada no que se refere ao comportamento competitivo mas é desencorajada quando se expressa em termos de ideias originais e questionamento da autoridade.”
“As partículas subatômicas – e, portanto, em última instância, todas as partes do universo – não podem ser entendidas como unidades isoladas, mas devem ser definidas através de suas inter-relações. (...) Essa mudança de objetos para relações tem implicações de longo alcance para a ciência como um todo. Gregory Bateson argumentou, inclusive, que as relações devem ser usadas como base para todas as definições, e que isso deveria ser ensinado às nossas crianças na escola primária. Acreditava que qualquer coisa devia ser definida por suas relações com outras coisas e não pelo que é em si mesma.”
“O universo começa a se parecer mais com um grande pensamento do que com uma máquina.”
“O elétron não possui propriedades objetivas independentes da minha mente. Na física atômica, não pode mais ser mantida a nítida divisão cartesiana entre matéria e mente, entre o observado e o observador. Nunca podemos falar da natureza sem, ao mesmo tempo, falar sobre nós mesmos.”
“Na física moderna, a massa deixou de estar associada a uma substância material; por conseguinte, não se considera que as partículas consistam em qualquer ‘substância’ básica; elas são vistas como feixes de energia.”
“Esses modelos de energia do mundo subatômico formam as estruturas nucleares, atômicas e moleculares estáveis que constroem a matéria e lhe confere seu sólido aspecto macroscópico, fazendo-nos por isso acreditar que ela é feita de alguma substância material. Em nível macroscópico, essa noção de substância é uma útil aproximação, mas no nível atômico deixa de ter qualquer sentido. Os átomos consistem em partículas, e estas partículas não são feitas de qualquer substância material. Quando as observamos, nunca vemos qualquer substância; o que vemos são modelos dinâmicos que se convertem continuamente uns nos outros – a contínua dança da energia. (...) Há movimento, mas não existem, em última análise, objetos moventes; há atividade, mas não existem atores; não há dançarinos, somente a dança.”
“Ao concentrar-se em partes cada vez menores do corpo, a medicina moderna perde frequentemente de vista o paciente como ser humano, e, ao reduzir a saúde a um funcionamento mecânico, não pode mais ocupar-se com o fenômeno da cura.”
“Em vez de tratarem pacientes, que estão enfermos, os médicos concentraram-se no tratamento de suas doenças. Perderam de vista a importante distinção entre os dois conceitos.”
“Muitas pessoas aderem obstinadamente ao modelo biomédico porque receiam ter seu estilo de vida examinado e ver-se confrontadas com seu comportamento doentio. Em vez de enfrentarem tal situação embaraçosa e frequentemente penosa, insistem em delegar toda a responsabilidade por sua saúde ao médico e aos medicamentos. Além disso, como sociedade, somos propensos a usar o diagnóstico médico como cobertura para problemas sociais. Preferimos falar sobre ‘hiperatividade’ ou a ‘incapacidade de aprendizagem’ de nossos filhos, em lugar de examinarmos a inadequação de nossas escolas; preferimos dizer que sofremos de ‘hipertensão’ a mudar nosso modo supercompetitivo dos negócios; aceitamos as taxas sempre crescentes de câncer em vez de investigarmos como a indústria química envenena nossos alimentos para aumentar seus lucros.”
“A natureza é o corpo inorgânico do homem – isto é, a natureza, na medida em que ela própria não é o corpo humano. ‘O homem vive na natureza’ significa que a natureza é seu corpo, com o qual ele deve permanecer em contínuo intercurso se não quiser morrer. Que a vida física e espiritual do homem está vinculada à natureza significa, simplesmente, que a natureza está vinculada a si mesma, pois o homem é parte da natureza.”
“Uma das características predominantes das economias de hoje, tanto a capitalista quanto a comunista, é a obsessão com o crescimento. O crescimento econômico e tecnológico é considerado essencial por virtualmente todos os economistas e políticos, embora nesta altura dos acontecimentos já se devesse estar bastante claro que a expansão ilimitada num meio ambiente finito só pode levar ao desastre. A crença na necessidade de crescimento contínuo é uma consequência da excessiva Ênfase dada aos valores yang – expansão, autoafirmação, competição – e está relacionada com as noções newtonianas de espaço e tempo absolutos e infinitos. É um reflexo do pensamento linear, da crença errônea em que, se algo é bom para um indivíduo ou um grupo, quanto mais desse algo houver melhor será.”
“‘Mais crescimentos é essencial para que todos tenham oportunidade de melhorar sua qualidade de vida’. Rockfeller não se referia, evidentemente, à qualidade de vida, mas ao chamado padrão de vida, que é equiparado ao consumo material. Os fabricantes gastam verbas enormes em publicidade a fim de que seja mantido um padrão de consumo competitivo; assim, muitos dos artigos consumidos são desnecessários, supérfluos e, com frequência, manifestamente nocivos.”
“Em nossa sociedade, a maioria das pessoas está insatisfeita com o trabalho que fazem e veem a recreação como o principal objetivo de suas vidas. Assim, o trabalho tornou-se o oposto do lazer, que é servido por uma gigantesca indústria concentrada na produção de aparelhos que consomem recursos e energia – jogos eletrônicos, barcos de corrida, trenós e patins – e que exorta as pessoas a um consumo cada vez mais esbanjador.”
“O excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente no qual a vida se tornou física e mentalmente doentia. Ar poluído, ruídos irritantes, congestionamento de tráfego, poluentes químicos, riscos de radiação e muitas outras fontes de estresse físico e psicológico passaram a fazer parte da vida cotidiana da maioria das pessoas. Esses múltiplos riscos para a saúde não são apenas subprodutos casuais do progresso tecnológico; são características integrantes de um sistema econômico obcecado com o crescimento e a expansão, e que continua a intensificar sua alta tecnologia numa tentativa de aumentar a produtividade.”
“Nossa obsessão pelo crescimento econômico e pelo sistema de valores que lhe é subjacente criou um meio ambiente físico e mental no qual a vida se tornou extremamente insalubre. Talvez o aspecto mais trágico desse dilema social seja o fato de que os perigos à saúde criados pelo sistema econômico são causados não só pelo processo de produção, mas pelo consumo de muitos dos artigos que são produzidos e promovidos por campanhas maciças de publicidade para alimentar a expansão econômica.”
“O que sobrevive é o organismo-em-seu-meio-ambiente. Um organismo que pense unicamente em termos de sua própria sobrevivência destruirá invariavelmente sem meio ambiente e, como estamos aprendendo por amarga experiência, acabará por destruir a si mesmo.”
“Na medida em que o meio ambiente muda, o cérebro amolda-se em resposta a essas mudanças.”
“Ao desenvolvermos nossa capacidade de pensamento abstrato num ritmo tão rápido, parece que perdemos a importante aptidão de ritualizarmos conflitos sociais. Em todo o mundo animal, a agressão raramente se desenvolve a ponto de levar um dos adversários à morte. Pelo contrário, a luta é ritualizada e termina usualmente com o perdedor aceitando a derrota, mas permanecendo relativamente indene. Essa sabedoria desapareceu ou, pelo menos, ficou profundamente submersa na espécie humana nascente. No processo de criação de um mundo interior abstrato, parece que perdemos o contato com as realidades da vida e passamos a ser as únicas criaturas que, com frequência, não são capazes de cooperar, e que chegam a matar indivíduos de sua própria espécie. A evolução da consciência deu-nos não só a pirâmide de Quéops, os concertos de Brandemburgo e a teoria da relatividade, mas também a queima de bruxas, o Holocausto e a bomba de Hiroxima.”
“Administrar remédios para doenças que já se desenvolveram (...) é comparável ao comportamento daquelas pessoas que começam a cavar um poço muito depois de terem ficado com sede, e daquelas que começam a fundir armas depois de já terem entrado na batalha. Não seriam essas providências excessivamente tardias?”
"Enquanto a transformação está ocorrendo, a cultura declinante recusa-se a mudar, aferrando-se cada vez mais obstinada e rigidamente a suas ideias obsoletas; as instituições sociais dominantes tampouco cederão seus papéis de protagonistas às novas forças culturais. Mas seu declínio continuará inevitavelmente, e elas acabarão por desintegrar-se, ao mesmo tempo que a cultura nascente continuará ascendendo e assumirá finalmente seu papel de liderança. Ao aproximar-se do ponto de mutação, a compreensão de que mudanças evolutivas dessa magnitude não podem ser impedidas por atividades políticas a curto prazo fornece a nossa mais robusta esperança para o futuro."
“A primeira transição, e talvez a mais profunda, deve-se ao lento, relutante, mas inevitável declínio do patriarcado. (...) O que sabemos é que, nestes últimos três mil anos, a civilização ocidental e suas precursoras, assim como a maioria das outras grandes culturas, basearam-se em sistemas filosóficos, sociais e políticos “em que os homens – pela força, pressão direta, ou através do ritual, da tradição, lei e linguagem, costumes, etiqueta, educação e divisão do trabalho – determinam que papel as mulheres devem ou não desempenhar, e no qual a fêmea está em toda parte submetida ao macho.” O poder do patriarcado tem sido extremamente difícil de entender por ser totalmente preponderante. Tem influenciado nossas ideias mais básicas acerca da natureza humana e de nossa relação com o universo – a natureza do “homem” e a relação “dele” com o universo, na linguagem patriarcal. Era o único sistema que, até data recente, nunca tinha sido abertamente desafiado em toda a história documentada, e cujas doutrinas eram tão universalmente aceitas que pareciam constituir leis da natureza; na verdade, eram usualmente apresentadas como tal. Hoje, porém, a desintegração do patriarcado tornou-se evidente. O movimento feminista é uma das mais fortes correntes culturais do nosso tempo, e terá um profundo efeito sobre a nossa futura evolução.”
“Que se permita a todas as coisas fazerem o que elas naturalmente fazem, de modo que sua natureza fique satisfeita.”
“A noção do homem como dominador da natureza e da mulher e a crença no papel superior da mente racional foram apoiadas e encorajadas pela tradição judaico-cristã, que adere à imagem de um deus masculino, personificação da razão suprema e fonte do poder último, que governa o mundo a partir do alto e lhe impõe sua lei divina.”
“O pensamento racional é linear, ao passo que a consciência ecológica decorre de uma intuição de sistemas não-lineares. Umas das coisas mais difíceis de serem entendidas pelas pessoas em nossa cultura é o fato de que se fazemos algo bom, continuar a fazê-lo não será necessariamente melhor.”
“Nosso progresso, portanto, foi uma questão predominantemente racional e intelectual, e essa evolução unilateral atingiu agora um estágio alarmante, uma situação tão paradoxal que beira a insanidade. Podemos controlar os pousos suaves de espaçonaves em planetas distante, mas somos incapazes de controlar a fumaça poluente expelida por nossos automóveis e nossas fábricas.”
“Enquanto o comportamento auto-afirmativo é apresentado como o ideal para os homens, espera-se das mulheres o comportamento submisso, mas também se espera esse comportamento submisso dos empregados e executivos, de quem se exige que neguem suas identidades individuais e adotem a identidade e os padrões de comportamento do grupo. Situação semelhante existe em nossos sistema educacional, no qual a auto-afirmação é recompensada no que se refere ao comportamento competitivo mas é desencorajada quando se expressa em termos de ideias originais e questionamento da autoridade.”
“As partículas subatômicas – e, portanto, em última instância, todas as partes do universo – não podem ser entendidas como unidades isoladas, mas devem ser definidas através de suas inter-relações. (...) Essa mudança de objetos para relações tem implicações de longo alcance para a ciência como um todo. Gregory Bateson argumentou, inclusive, que as relações devem ser usadas como base para todas as definições, e que isso deveria ser ensinado às nossas crianças na escola primária. Acreditava que qualquer coisa devia ser definida por suas relações com outras coisas e não pelo que é em si mesma.”
“O universo começa a se parecer mais com um grande pensamento do que com uma máquina.”
“O elétron não possui propriedades objetivas independentes da minha mente. Na física atômica, não pode mais ser mantida a nítida divisão cartesiana entre matéria e mente, entre o observado e o observador. Nunca podemos falar da natureza sem, ao mesmo tempo, falar sobre nós mesmos.”
“Na física moderna, a massa deixou de estar associada a uma substância material; por conseguinte, não se considera que as partículas consistam em qualquer ‘substância’ básica; elas são vistas como feixes de energia.”
“Esses modelos de energia do mundo subatômico formam as estruturas nucleares, atômicas e moleculares estáveis que constroem a matéria e lhe confere seu sólido aspecto macroscópico, fazendo-nos por isso acreditar que ela é feita de alguma substância material. Em nível macroscópico, essa noção de substância é uma útil aproximação, mas no nível atômico deixa de ter qualquer sentido. Os átomos consistem em partículas, e estas partículas não são feitas de qualquer substância material. Quando as observamos, nunca vemos qualquer substância; o que vemos são modelos dinâmicos que se convertem continuamente uns nos outros – a contínua dança da energia. (...) Há movimento, mas não existem, em última análise, objetos moventes; há atividade, mas não existem atores; não há dançarinos, somente a dança.”
“Ao concentrar-se em partes cada vez menores do corpo, a medicina moderna perde frequentemente de vista o paciente como ser humano, e, ao reduzir a saúde a um funcionamento mecânico, não pode mais ocupar-se com o fenômeno da cura.”
“Em vez de tratarem pacientes, que estão enfermos, os médicos concentraram-se no tratamento de suas doenças. Perderam de vista a importante distinção entre os dois conceitos.”
“Muitas pessoas aderem obstinadamente ao modelo biomédico porque receiam ter seu estilo de vida examinado e ver-se confrontadas com seu comportamento doentio. Em vez de enfrentarem tal situação embaraçosa e frequentemente penosa, insistem em delegar toda a responsabilidade por sua saúde ao médico e aos medicamentos. Além disso, como sociedade, somos propensos a usar o diagnóstico médico como cobertura para problemas sociais. Preferimos falar sobre ‘hiperatividade’ ou a ‘incapacidade de aprendizagem’ de nossos filhos, em lugar de examinarmos a inadequação de nossas escolas; preferimos dizer que sofremos de ‘hipertensão’ a mudar nosso modo supercompetitivo dos negócios; aceitamos as taxas sempre crescentes de câncer em vez de investigarmos como a indústria química envenena nossos alimentos para aumentar seus lucros.”
“A natureza é o corpo inorgânico do homem – isto é, a natureza, na medida em que ela própria não é o corpo humano. ‘O homem vive na natureza’ significa que a natureza é seu corpo, com o qual ele deve permanecer em contínuo intercurso se não quiser morrer. Que a vida física e espiritual do homem está vinculada à natureza significa, simplesmente, que a natureza está vinculada a si mesma, pois o homem é parte da natureza.”
“Uma das características predominantes das economias de hoje, tanto a capitalista quanto a comunista, é a obsessão com o crescimento. O crescimento econômico e tecnológico é considerado essencial por virtualmente todos os economistas e políticos, embora nesta altura dos acontecimentos já se devesse estar bastante claro que a expansão ilimitada num meio ambiente finito só pode levar ao desastre. A crença na necessidade de crescimento contínuo é uma consequência da excessiva Ênfase dada aos valores yang – expansão, autoafirmação, competição – e está relacionada com as noções newtonianas de espaço e tempo absolutos e infinitos. É um reflexo do pensamento linear, da crença errônea em que, se algo é bom para um indivíduo ou um grupo, quanto mais desse algo houver melhor será.”
“‘Mais crescimentos é essencial para que todos tenham oportunidade de melhorar sua qualidade de vida’. Rockfeller não se referia, evidentemente, à qualidade de vida, mas ao chamado padrão de vida, que é equiparado ao consumo material. Os fabricantes gastam verbas enormes em publicidade a fim de que seja mantido um padrão de consumo competitivo; assim, muitos dos artigos consumidos são desnecessários, supérfluos e, com frequência, manifestamente nocivos.”
“Em nossa sociedade, a maioria das pessoas está insatisfeita com o trabalho que fazem e veem a recreação como o principal objetivo de suas vidas. Assim, o trabalho tornou-se o oposto do lazer, que é servido por uma gigantesca indústria concentrada na produção de aparelhos que consomem recursos e energia – jogos eletrônicos, barcos de corrida, trenós e patins – e que exorta as pessoas a um consumo cada vez mais esbanjador.”
“O excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente no qual a vida se tornou física e mentalmente doentia. Ar poluído, ruídos irritantes, congestionamento de tráfego, poluentes químicos, riscos de radiação e muitas outras fontes de estresse físico e psicológico passaram a fazer parte da vida cotidiana da maioria das pessoas. Esses múltiplos riscos para a saúde não são apenas subprodutos casuais do progresso tecnológico; são características integrantes de um sistema econômico obcecado com o crescimento e a expansão, e que continua a intensificar sua alta tecnologia numa tentativa de aumentar a produtividade.”
“Nossa obsessão pelo crescimento econômico e pelo sistema de valores que lhe é subjacente criou um meio ambiente físico e mental no qual a vida se tornou extremamente insalubre. Talvez o aspecto mais trágico desse dilema social seja o fato de que os perigos à saúde criados pelo sistema econômico são causados não só pelo processo de produção, mas pelo consumo de muitos dos artigos que são produzidos e promovidos por campanhas maciças de publicidade para alimentar a expansão econômica.”
“O que sobrevive é o organismo-em-seu-meio-ambiente. Um organismo que pense unicamente em termos de sua própria sobrevivência destruirá invariavelmente sem meio ambiente e, como estamos aprendendo por amarga experiência, acabará por destruir a si mesmo.”
“Na medida em que o meio ambiente muda, o cérebro amolda-se em resposta a essas mudanças.”
“Ao desenvolvermos nossa capacidade de pensamento abstrato num ritmo tão rápido, parece que perdemos a importante aptidão de ritualizarmos conflitos sociais. Em todo o mundo animal, a agressão raramente se desenvolve a ponto de levar um dos adversários à morte. Pelo contrário, a luta é ritualizada e termina usualmente com o perdedor aceitando a derrota, mas permanecendo relativamente indene. Essa sabedoria desapareceu ou, pelo menos, ficou profundamente submersa na espécie humana nascente. No processo de criação de um mundo interior abstrato, parece que perdemos o contato com as realidades da vida e passamos a ser as únicas criaturas que, com frequência, não são capazes de cooperar, e que chegam a matar indivíduos de sua própria espécie. A evolução da consciência deu-nos não só a pirâmide de Quéops, os concertos de Brandemburgo e a teoria da relatividade, mas também a queima de bruxas, o Holocausto e a bomba de Hiroxima.”
“Administrar remédios para doenças que já se desenvolveram (...) é comparável ao comportamento daquelas pessoas que começam a cavar um poço muito depois de terem ficado com sede, e daquelas que começam a fundir armas depois de já terem entrado na batalha. Não seriam essas providências excessivamente tardias?”
"Enquanto a transformação está ocorrendo, a cultura declinante recusa-se a mudar, aferrando-se cada vez mais obstinada e rigidamente a suas ideias obsoletas; as instituições sociais dominantes tampouco cederão seus papéis de protagonistas às novas forças culturais. Mas seu declínio continuará inevitavelmente, e elas acabarão por desintegrar-se, ao mesmo tempo que a cultura nascente continuará ascendendo e assumirá finalmente seu papel de liderança. Ao aproximar-se do ponto de mutação, a compreensão de que mudanças evolutivas dessa magnitude não podem ser impedidas por atividades políticas a curto prazo fornece a nossa mais robusta esperança para o futuro."
A Descoberta do Mundo - Clarice Lispector
“Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio.”
“Faze com que ele sinta que a morte não existe porque já estamos na eternidade... (…) faze com que ele receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la...”
“Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam.”
“Quero ser anônima e íntima. Quero falar sem falar, se é possível. (…) É que sinto falta de um silêncio. Eu era silenciosa. E agora me comunico, mesmo sem falar. Mas falta uma coisa. Eu vou tê-la. É uma espécie de liberdade, sem pedir licença a ninguém.”
“Essa tendência atual de elogiar as pessoas dizendo que são 'muito humanas' está me cansando. Em geral esse 'humano' está querendo dizer 'bonzinho', 'afável', senão meloso.”
“Estou cansada de tanta gente me achar simpática. Quero os que me acham antipática porque com esses eu tenho afinidade: tenho profunda antipatia por mim.”
“A verdade do mundo é impalpável.”
“Com o tempo, sobretudo nos últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova da 'solidão de não pertencer' começou a me invadir como heras num muro.”
“Como o ser humano um dia fez uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos.”
“Palavras de uma amiga. 'Fortifica o que de melhor tiveres em ti. Não prestes atenção à opinião alheia. Faze de ti mesma e de teu próprio Eu o teu mestre. Quando ele estiver bastante fortalecido, despertará e coisas jamais sonhadas te serão reveladas.”
“Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.”
“É preciso também não perdoar. (…) A hora da sobrevivência é aquela em que a crueldade de quem é a vítima é permitida, a crueldade e a revolta. E não compreender os outros é que é certo.”
“É determinismo, sim. Mas seguindo o próprio determinismo é que se é livre. Prisão seria seguir um destino que não fosse o próprio. Há uma grande liberdade em se ter um destino. Este é o nosso livre arbítrio.”
"Morrer deve ser assim: por algum motivo estar-se tão cansado que só o sono da morte compensa. Morrer às vezes parece um egoísmo. Mas quem morre às vezes precisa muito. Será que morrer é o último prazer terreno?”
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.”
“Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara.”
“Eu às vezes tenho a sensação de que estou procurando às cegas alguma coisa; eu quero continuar, eu me sinto obrigada a continuar. Sinto até uma certa coragem de fazê-lo. O meu temor é de que seja tudo muito novo para mim, que eu talvez possa encontrar o que não quero. Essa coragem eu teria, mas o preço é muito alto, o preço é muito caro, e eu estou cansada. Sempre paguei e de repente não quero mais. Sinto que tenho que ir para um lado ou para outro. Ou para uma desistência: levar uma vida mais humilde de espírito, ou então não sei em que ramo a desistência, não sei em que lugar encontrar a tarefa, a doçura, a coisa.”
“Thoreau , por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas ‘melhore o momento presente’, exclamava. E acrescentava: ‘Estamos vivos agora’. E comentava com desgosto: ‘Eles estão juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar’. A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo dia de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome uma providência agora, pois só nas sequências dos agoras é que você existe.”
“Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez usada entenderá o que quero dizer.”
“– Tem pessoas – acrescentou – que nunca ficam deprimidas, e não sabem o que perdem.
Explicou-me, logo a mim, que a depressão ensina muito.”
“Gafe é a hora em que certa realidade se revela.”
“Quem sabe, se fingissem menos naturalidade, ficassem mais naturais.”
“A pior cegueira é a dos que não sabem que estão cegos.”
“Com uma amiga chegamos a um tal ponto de simplicidade e liberdade que às vezes eu telefono e ela responde: não estou com vontade de falar. Então digo até logo e vou fazer outra coisa.”
“Estava permanentemente ocupada em querer e não quer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir.”
“Mas liberdade é só o que se conquista. Quando me dão, estão me mandando ser livre.”
“De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso bastasse.”
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente."
“Perguntei-lhe se já experimentara sentir-se em solidão ou se sua vida tinha sempre esse brilho justificável. Eu aconselhei que de vez em quando ficasse sozinho, senão seria submergido, pois até o amor excessivo dos outros podia submergir uma pessoa. Ele concordou, e disse que sempre que podia dava suas retiradas.”
“Há os que já têm o LSD em si, sem precisar tomá-lo.”
“Ele disse: não chore, que chorar enfraquece. Eu disse: mas às vezes é como a chuva de que se precisa quando tem estiagem demais e tudo fica muito seco.”
“Antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado.”
“Ter nascido me estragou a saúde.”
“Eu sei de muito pouco. Mas tenho ao meu favor tudo o que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos.”
“Precisará compreender que é frequentemente tão importante quebrar um bom hábito como quebrar um mau. Todos os hábito são suspeitos.”
“Às vezes me enjoo de gente. Depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta.”
“E, por me estranhar, vi-me por um instante como sou. Gostei ou não? Simplesmente aceitei.”
“Era profundamente derrotado pelo mundo em que vivia. E separara-se das pessoas pela sua derrota e por sentir que os outros também eram derrotados. Ele não queria fazer parte de um mundo onde, por exemplo, o rico devorava o pobre. Como parecia-lhe um movimento apenas romântico, o seu, se se agregasse aos que lutavam contra o esmagamento da vida como esta era, então fechou-se numa individualização que, se não tomasse cuidado, podia se transformar em solidão histérica ou meramente contemplativa. Enquanto não viesse algo melhor, procurava relacionar-se com os outros derrotados por intermédio de uma espécie de amor torto, que atingia tanto os outros como, de algum modo, a si próprio.”
“Creio mesmo que um dia vou estourar de lucidez, isto é, ficar louco.” (Millôr Fernandes)
“Precisa-se dar outro nome a certo tipo de esperança porque esta palavra significa sobretudo espera. E a esperança é já. Deve haver uma palavra que signifique o que quero dizer.”
“Faze com que ele sinta que a morte não existe porque já estamos na eternidade... (…) faze com que ele receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos também incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la...”
“Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam.”
“Quero ser anônima e íntima. Quero falar sem falar, se é possível. (…) É que sinto falta de um silêncio. Eu era silenciosa. E agora me comunico, mesmo sem falar. Mas falta uma coisa. Eu vou tê-la. É uma espécie de liberdade, sem pedir licença a ninguém.”
“Essa tendência atual de elogiar as pessoas dizendo que são 'muito humanas' está me cansando. Em geral esse 'humano' está querendo dizer 'bonzinho', 'afável', senão meloso.”
“Estou cansada de tanta gente me achar simpática. Quero os que me acham antipática porque com esses eu tenho afinidade: tenho profunda antipatia por mim.”
“A verdade do mundo é impalpável.”
“Com o tempo, sobretudo nos últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova da 'solidão de não pertencer' começou a me invadir como heras num muro.”
“Como o ser humano um dia fez uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos.”
“Palavras de uma amiga. 'Fortifica o que de melhor tiveres em ti. Não prestes atenção à opinião alheia. Faze de ti mesma e de teu próprio Eu o teu mestre. Quando ele estiver bastante fortalecido, despertará e coisas jamais sonhadas te serão reveladas.”
“Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal.”
“É preciso também não perdoar. (…) A hora da sobrevivência é aquela em que a crueldade de quem é a vítima é permitida, a crueldade e a revolta. E não compreender os outros é que é certo.”
“É determinismo, sim. Mas seguindo o próprio determinismo é que se é livre. Prisão seria seguir um destino que não fosse o próprio. Há uma grande liberdade em se ter um destino. Este é o nosso livre arbítrio.”
"Morrer deve ser assim: por algum motivo estar-se tão cansado que só o sono da morte compensa. Morrer às vezes parece um egoísmo. Mas quem morre às vezes precisa muito. Será que morrer é o último prazer terreno?”
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.”
“Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara.”
“Eu às vezes tenho a sensação de que estou procurando às cegas alguma coisa; eu quero continuar, eu me sinto obrigada a continuar. Sinto até uma certa coragem de fazê-lo. O meu temor é de que seja tudo muito novo para mim, que eu talvez possa encontrar o que não quero. Essa coragem eu teria, mas o preço é muito alto, o preço é muito caro, e eu estou cansada. Sempre paguei e de repente não quero mais. Sinto que tenho que ir para um lado ou para outro. Ou para uma desistência: levar uma vida mais humilde de espírito, ou então não sei em que ramo a desistência, não sei em que lugar encontrar a tarefa, a doçura, a coisa.”
“Thoreau , por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas ‘melhore o momento presente’, exclamava. E acrescentava: ‘Estamos vivos agora’. E comentava com desgosto: ‘Eles estão juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar’. A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo dia de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome uma providência agora, pois só nas sequências dos agoras é que você existe.”
“Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez usada entenderá o que quero dizer.”
“– Tem pessoas – acrescentou – que nunca ficam deprimidas, e não sabem o que perdem.
Explicou-me, logo a mim, que a depressão ensina muito.”
“Gafe é a hora em que certa realidade se revela.”
“Quem sabe, se fingissem menos naturalidade, ficassem mais naturais.”
“A pior cegueira é a dos que não sabem que estão cegos.”
“Com uma amiga chegamos a um tal ponto de simplicidade e liberdade que às vezes eu telefono e ela responde: não estou com vontade de falar. Então digo até logo e vou fazer outra coisa.”
“Estava permanentemente ocupada em querer e não quer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir.”
“Mas liberdade é só o que se conquista. Quando me dão, estão me mandando ser livre.”
“De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso bastasse.”
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente."
“Perguntei-lhe se já experimentara sentir-se em solidão ou se sua vida tinha sempre esse brilho justificável. Eu aconselhei que de vez em quando ficasse sozinho, senão seria submergido, pois até o amor excessivo dos outros podia submergir uma pessoa. Ele concordou, e disse que sempre que podia dava suas retiradas.”
“Há os que já têm o LSD em si, sem precisar tomá-lo.”
“Ele disse: não chore, que chorar enfraquece. Eu disse: mas às vezes é como a chuva de que se precisa quando tem estiagem demais e tudo fica muito seco.”
“Antes o sofrimento legítimo que o prazer forçado.”
“Ter nascido me estragou a saúde.”
“Eu sei de muito pouco. Mas tenho ao meu favor tudo o que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos.”
“Precisará compreender que é frequentemente tão importante quebrar um bom hábito como quebrar um mau. Todos os hábito são suspeitos.”
“Às vezes me enjoo de gente. Depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta.”
“E, por me estranhar, vi-me por um instante como sou. Gostei ou não? Simplesmente aceitei.”
“Era profundamente derrotado pelo mundo em que vivia. E separara-se das pessoas pela sua derrota e por sentir que os outros também eram derrotados. Ele não queria fazer parte de um mundo onde, por exemplo, o rico devorava o pobre. Como parecia-lhe um movimento apenas romântico, o seu, se se agregasse aos que lutavam contra o esmagamento da vida como esta era, então fechou-se numa individualização que, se não tomasse cuidado, podia se transformar em solidão histérica ou meramente contemplativa. Enquanto não viesse algo melhor, procurava relacionar-se com os outros derrotados por intermédio de uma espécie de amor torto, que atingia tanto os outros como, de algum modo, a si próprio.”
“Creio mesmo que um dia vou estourar de lucidez, isto é, ficar louco.” (Millôr Fernandes)
“Precisa-se dar outro nome a certo tipo de esperança porque esta palavra significa sobretudo espera. E a esperança é já. Deve haver uma palavra que signifique o que quero dizer.”
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