As Intermitências da Morte - José Saramago

“A Igreja, senhor primeiro-ministro, habituou-se de tal maneira às respostas eternas que não posso imaginá-las a dar outras, Ainda que a realidade as contradiga, Desde o princípio que nós não temos feito outra coisa que contradizer a realidade, e aqui estamos.”

“A Igreja nunca se lhe pediu que explicasse, fosse o que fosse, a nossa outra especialidade, além da balística, tem sido neutralizar, pela fé, o espírito curioso.”

“Os delegados das religiões não se deram ao incômodo de protestar. Pelo contrário, um deles, conceituado integrante do setor católico, disse Tem razão senhor filósofo, é para isso mesmo que nós existimos, para que as pessoas levem toda a vida com o medo pendurado ao pescoço e, chegada a sua hora, acolham a morte como uma libertação, O Paraíso, Paraíso ou inferno, ou coisa nenhuma, o que se passa depois da morte importa-nos muito menos que o que geralmente se crê, a religião, senhor filósofo, é um assunto da terra, não tem nada que ver com o céu, Não foi o que nos habituaram a ouvir, Algo teríamos que dizer para tornar atrativa a mercadoria, Isso quer dizer que em realidade não acreditam na vida eterna, Fazemos de conta.”

“É assim a vida, vai dando com uma mão até o dia em que tira tudo com a outra.”

“Cada um de nós tem a sua própria morte, transporta-a consigo num lugar secreto desde que nasceu, ela pertence-te, tu pertence-lhe.”

“Se não voltarmos a morrer não temos futuro.”

“Momentos de fraqueza na vida qualquer um os poderá ter e, se hoje passamos sem eles, tenhamo-los por certos amanhã.”