Entrevista com o vampiro - Anne Rice

"Mas, em algum momento, todos devemos nos deitar em caixões."

"Por que isto o torna tão perverso quanto qualquer vampiro? Não há gradações de perversidade? Será o mal um imenso e perigoso poço onde se cai ao primeiro pecado, mergulhando até o fundo?"

"– Então não somos... – cheguei para frente. – ... os filhos de Satã?
– Como poderíamos ser filhos de Satã? – perguntou. – Acredita que Satã criou este mundo que nos cerca? 
– Não, creio que Deus o criou, se é que alguém o fez. Mas Ele também fez Satã, e quero saber se somos seus filhos!
– Exatamente. Se você acredita que Deus criou Satã, deve compreender que todos os poderes de Satã provêm de Deus, que Satã é simplesmente filho de Deus, e que nós também o somos. Na verdade, não há filhos de Satã."

"Não sabia que pensava aquelas coisas. Falava ao mesmo tempo em que os pensamentos se construíam. E eles eram meus sentimentos mais profundos tomando uma forma que jamais adquiririam se eu não falasse sobre eles, se não os tivesse deixado sair em conversa com outro vampiro. Neste momento me vi, em certo sentido, como uma mente passiva. Isto é, só conseguia me expressar, formular pensamentos diferentes do emaranhado de melancolia e dor quando provocado por outra mente, fertilizado por ela, profundamente excitado por essa outra mente e levado a tirar conclusões. Senti um alívio incrível e profundo para a minha solidão."

"Acho que levei as mãos à cabeça como fazem os mortais quando se sentem tão perturbados que institivamente escondem a face, apertando o cérebro como se pudessem atravessar o crânio e massagear o órgão vivo para sair de sua agonia."

"Os homens eram capazes de males muito maiores do que os vampiros."

"Quantos vampiros você pensa que têm condições para a imortalidade? Para começar, têm uma visão completamente distorcida da imortalidade. Ao se tornarem imortais, querem que todas as características de suas vidas permaneçam imutáveis; carruagens seguindo sempre a mesma moda, roupas com cortes ao seu gosto, homens se comportando e falando do mundo que sempre compreenderam e apreciaram. Quando, na verdade, tudo muda, exceto o próprio vampiro. Tudo, a não ser o vampiro, está sujeito a corrupções e distorções constantes. Em pouco tempo, com uma mente inflexível, e geralmente mesmo para as mentalidades mais flexíveis, esta imortalidade torna-se uma sentença a ser cumprida num asilo de vultos e formas inexoravelmente incompreensíveis e sem valor. Numa noite o vampiro acorda e percebe aquilo que há décadas temia: que simplesmente não quer mais viver, a qualquer preço. O estilo, moda ou forma de existência que tornaram a imortalidade tão atraente foram varridos da face da terra."