A cura de Schopenhauer - Irvin D. Yalom

"Mas agora, pensando na jovem meditando, sentiu algo mais terno, uma onda de compaixão por ela e por todos os demais humanos que eram vítimas daquela excêntrica virada de evolução que permite ter consciência de si mesmo, mas não as ferramentas psicológicas necessárias para lidar com a dor da existência transitória. E assim, por anos, séculos e milênios afora, construímos sem parar negações paliativas da finitude."

"Melhor aceitar a solução de Einstein e Spinoza: apenas inclinar a cabeça e bater no chapéu para as elegantes leis e mistérios da natureza, mas tratar de viver."

"Levo uma vida muito sóbria, não preciso de nada, exceto da liberdade de ter o que é realmente importante para mim: ler, pensar, meditar, ouvir música, jogar xadrez e caminhar com Rugby, meu cachorro."

"Viu muitos pacientes mudarem totalmente, mas continuarem sendo vistos do mesmo jeito pelo restante do grupo. Isso ocorre também nas famílias. Muitos pacientes passavam por maus bocados ao visitarem a casa dos pais: tinham que ficar atentos para não serem jogados no velho papel que a família lhes reservara e precisavam de muito esforço e energia para convencer pais e parentes de que tinham de fato mudado."

"As grandes dores fazem com que as menores mal sejam sentidas e, na falta das grandes, até a menor nos atormenta."

"Nietzsche uma vez disse que, quando acordamos desanimados no meio da noite, os inimigos que derrotamos há muito tempo voltam para nos assombrar."

"– Julius, você me confunde, me impressiona seu jeito tão prosaico de falar na morte.
– Todos nós estamos morrendo, Bonnie. Só que eu sei meu prazo de validade melhor do que vocês."

"A popularidade não mostra o que é verdadeiro ou bom. Pelo contrário, nivela por baixo."

"Será que a vida era uma tal angústia que deveria ser sacrificada em nome da calma? Talvez as quatro grandes verdades fossem ligadas à cultura indiana. Talvez fossem verdades adequadas para 2.500 anos atrás, em um lugar oprimido pela pobreza, pela superpopulação, pela fome, pela doença, pela opressão das castas e pela falta de qualquer esperança em um futuro melhor. Mas seriam verdades para ela agora? Será que Marx não estava certo? Será que todas as religiões fincadas na libertação ou em uma vida melhor depois da morte visavam apenas aos pobres, aos sofridos, aos escravizados?"

"Quanto mais se tem dentro de si, menos se quer dos outros."

"– Estar satisfeito, precisar tão pouco dos outros. jamais querer a companhia de alguém... Isso parece bem solitário, Philip.
– Pelo contrário. No passado, quando eu queria a companhia dos outros, pedia o que não iam dar, ou melhor, não podiam dar. Aí, sim, vi o que era solidão. Vi muito bem. Não precisar de ninguém é nunca estar só. Eu busco a abençoada solidão."

"Desumano mesmo era quando eu deixava que minha autoestima flutuasse como uma cortiça de acordo com o que os outros achavam de mim."

"Acho que a vista do cume de uma montanha ajuda muito a ampliar os conceitos. (...) Tudo que é pequeno, some. Só fica o que é grande."

"Todo terapeuta experiente tinha um arsenal de 'técnicas para abrir mão' para usar na terapia. Mas a indústria simplista e esperta do perdão tinha crescido, promovido e comercializado esse aspecto da terapia e apresentado como se fosse algo totalmente novo. A enganação havia ganhado respeitabilidade por se misturar ao atual clima social e político mundial de perdão para afrontas como genocídio, escravidão e exploração. Até o papa tinha pedido perdão para os cruzados que saquearam Constantinopla no século XIII." 

"Lembrou-se dos grupos de pacientes com câncer em que ele tinha orientado havia alguns anos. Era frequente as pessoas falarem de uma fase de ouro, passado o pânico de constatar que iam morrer. Alguns disseram que o câncer os tinha deixado mais sensatos, mais realizados, enquanto outros mudaram suas prioridades na vida, ficaram mais fortes, aprenderam a recusar atividades de que não gostavam mais havia muito tempo e fazer coisas que de fato importavam, como amar a família e os amigos, observar a beleza das coisas em volta, sentir a mudança das estações. Mas muitos pacientes lamentavam que só tivesse aprendido a viver depois de seus corpos terem sido corroídos pelo câncer. As mudanças foram tão grandes (um paciente chegou a dizer que 'o câncer cura a neurose') que, por duas vezes, Julius lançou um desafio aos seus alunos na faculdade. Descreveu apenas as mudanças psicológicas de determinados pacientes e pediu que os alunos dissessem o tipo de tratamento que estavam recebendo. Todos ficaram surpresos ao saber que nenhuma terapia ou remédio tinha mudado tanto aqueles pacientes, apenas o fato de enfrentarem a morte."